Adair de Miranda Cabral e Silva, ou simplesmente dona Dazinha, como é conhecida e prefere ser chamada, foi a única mulher da história de Santo Estevão a ocupar o cargo de prefeita. E como homenagem no mês da Mulher, fomos entrevistá-la para contar pela primeira vez a história de uma mulher simples e forte ao mesmo tempo, uma grande mãe de família, amiga e acima de tudo, uma pessoa que se destacou no cenário político numa época em que as mulheres tinham poucos papéis de destaque.
Nascida em 27 de março de 1930, dona Dazinha se elegeu prefeita de Santo Estevão em 15 de novembro de 1976. A sua posse aconteceu em 31 de janeiro do ano seguinte.
Quando entrou para política, dona Dazinha ainda era noiva do então prefeito e mais tarde seu esposo Lineu Cerqueira da Silva, o Nôia, um dos maiores líderes políticos de Santo Estevão. Ela tinha 46 anos e conta para a reportagem do Correio da Cidade como se transformou em prefeita, numa época em que o espaço feminino era muito restrito na sociedade, em pleno período que finalizava a ditadura no Brasil.
Assim que começa a entrevista, dona Dazinha pega um papel com anotações com os dados daquela eleição. Naquele pleito, ela obteve 6.474 votos, derrotando quatro candidatos e todos homens. A mulher de expressão serena e uma simpatia incrível venceu as eleições com quase 3 mil votos de frente para o segundo colocado.
Dona Dazinha governou o município de 1977 até o ano de 1983. Além de conquistar o espaço feminino na política local, ela tinha outro desafio: administrar uma cidade com o governo do Estado sendo oposição. Na época, quem governava a Bahia era Roberto Santos, que ficou no poder entre 1975 e 1979. Depois enfrentou o governo de Antonio Carlos Magalhães, também do grupo opositor. E para ela, esse não era apenas o maior desafio. Dona Dazinha conta que naquele período o município não tinha muitos recursos e tudo era mais difícil. “Tinha muita pobreza, a gente chegava na zona rural e se deparava com pessoas passando fome e isso me deixava triste. A gente vivia para ajudar mesmo”, lembra. “Hoje tudo é diferente, existem os programas sociais, os moradores do campo passaram a ter acesso à escolas, programas de Saúde, água, energia elétrica, e a vida é outra. É outro contexto”, explica.
A ex prefeita conta que participar da eleição não foi difícil pois já atuava na campanha de seu esposo Nôia. “Eu estava familiarizada com a política e foi tudo tranquilo; era conhecida em todos os cantos da cidade. Eu governei com ele me ajudando em tudo. Éramos um casal de prefeitos”, brinca.
Como legado principal, dona Dazinha se recorda da obra de construção da Escola Edite Ferreira Fonseca. Mas relembra que a maior missão de seu governo era tentar diminuir a pobreza. Meu esposo tinha um moinho de milho e já deixava os pacotes de fubá separados com o nome das pessoas. Ele não gostava de ver ninguém passando dificuldade. A gente não se limitava só ajudar via governo”, conta. “Além de matar a fome dos pobres, como a cidade na época não tinha atendimento médico em Santo Estevão, a gente mesmo é quem levava as pessoas para serem atendidas em Feira de Santana”, completou.
Ela conta que assim que acabou o mandato voltou para cuidar de sua maior paixão que é a costura. “Fui costurar, ensinei a profissão a muitas outras pessoas, fui cuidar das minhas plantas e da família. Entre ser política e dona de casa, escolho a segunda opção”, afirma Dona Dazinha, que tem paixão pelos filhos, netos e bisnetos.
No porta retratos da sala estão as fotos da sua segunda geração. Orgulhosa, ela conta que adora ver a casa cheia de gente e que já espera o domingo para ver todos reunidos.
A ex prefeita tem seu nome marcado na história também como a nomenclatura de um bairro na cidade. O Conjunto Habitacional Adair de Miranda Cabral e Silva, mesmo que muitos moradores não saibam, tem o carinho de dona Dazinha. “Sempre que passo por lá me emociono pois vejo que deixei meu nome para a história da cidade. Olho para aquele bairro com o carinho de uma mãe”, conta em tom emocionado.
Aos 88 anos, Dona Dazinha diz que gosta de saber tudo que acontece na internet. “É preciso estar atualizada com tudo e eu gosto de saber o que acontece em minha cidade, no meu país”.
Ela relembra a atuação política dos jovens na época e compara com a geração atual. “Quando fui candidata lembro que os jovens iam às ruas, produziam cartazes e quando eu via já estava tudo pronto. Era uma festa da democracia. Hoje sinto falta disso; gostaria ainda de ver o jovem mais atuante, lutando pela melhoria de vida de nossa gente”, contou.
A história de Adair de Miranda, em 2014 fez parte da dissertação de Mestrado da professora Camila Noêmia Rener Santos Bastos, que hoje leciona a disciplina de História no Colégio Polivalente.
Reportagem | Alysson Ribeiro | falecom@correiodacidade.com.br
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