Em entrevista exclusiva ao Correio da Cidade, o cantor Netinho conta como estão os preparativos para se apresentar pela primeira vez em um trio elétrico desde que ele se recuperou de complicações de saúde que teve em 2013. A apresentação do artista será no sábado, dia 21, na micareta de Feira de Santana, o maior evento fora de época da Bahia.
Ao Correio da Cidade, Netinho contou que em 2014, após seis meses internado, fez um show no City Bank Hall, no Rio de Janeiro, no dia 4 de abril daquele ano, com show lotado para anunciar a sua volta. Passou mal durante o show e voltou para o hospital Sírio Libanês para mais seis meses de internação. Quando teve alta médica em 2015, fez quatro shows (três em Recife e um no Rio de Janeiro. Passou mal outra vez e retornou ao hospital para tratamento. 2016 passou o ano fazendo check-ups médicos e retornou aos palcos no final do ano passado e de lá pra cá vem se apresentando muito e pela primeira vez após seu problema de saúde, conseguiu fazer cinco shows consecutivos (um por mês, seguido pelos médicos) e conta que não sentiu absolutamente nada. “Vou estar agora de volta aos trios, logo em Feira de Santana que adoro tanto. A micareta mais antiga do Brasil, a mais tradicional, fazendo meu primeiro show em trio elétrico, que tenho certeza que será maravilhoso”, contou ao Correio da Cidade.
Netinho é dono de uma das vozes mais marcantes do carnaval da Bahia. O cantor, que já emplacou grandes hits como “Mila”, “Capricho dos Deuses” e “Menina”, tem sua marca registrada pelo talento nos palcos. Netinho é considerado como um dos maiores puxadores de trios elétricos em carnavais pelo Brasil a fora. Nascido em Santo Antônio de Jesus, interior da Bahia, no dia 12 de julho de 1966, Ernesto de Souza Andrade Júnior começou sua carreira cedo. Ganhou seu primeiro violão aos 14 anos, um presente de sua mãe, e depois de ingressar no curso de Engenharia Civil da Universidade Católica de Salvador, começou a tocar profissionalmente em bares da cidade, com o repertório de MPB e muita Bossa Nova.
Confira a entrevista na íntegra:
Correio da Cidade – Netinho, depois de tanto tempo longe da micareta de Feira e dos trios elétricos, qual a sua expectativa para matar a saudade dos fãs?
Netinho – Alysson, você perguntou duas coisas aí que tocou meu coração. Primeiro é o tempo que não vou à Feira de Santana e também o tempo sem cantar em trio elétrico. Olha só que coisa boa: meu retorno ao trio e vai ser justamente em Feira de Santana, na Micareta de Feira, a primeira de todas. Estou muito feliz, cheio de gratidão e vou fazer um show lindo, vai ser maravilhoso.
Correio da Cidade – Você chega como uma das grandes apostas para a micareta feirense, não somente pelo seu retorno, mas pelo seu indiscutível talento que o consagrou como um dos maiores puxadores de trios elétricos. Como está se preparando para este dia?
Netinho - Já estou ensaiando há semanas para a Micareta de Feira, porque estou preparando repertório especial para trio elétrico. Além das minhas músicas vou cantar os maiores sucessos do axé dos anos 90, aquele período maravilhoso do axé que a gente não consegue esquecer. Vai ser lindíssima a apresentação no trio. Quero todo mundo em Feira colado com o trio que a gente vai fazer um arrastão de alegria, um arrastão maravilhoso.
Correio da Cidade – Sucessos como ‘Mila’ estará no repertório? Quais outras canções o folião poderá reviver?
Netinho – Alysson, “Mila” com certeza estará no repertório e o que estou preparando é aquele estilo axé 'cruel', como as pessoas chamam, né? Uma música colada com a outra, e 'pauleira' total. Vai ser lindo. Além de “Mila”, vou cantar vários outros sucessos meus como Jeito Diferente, Preciso de Você, Total, Fim de Semana, Lugar Nenhum, Qualquer Estação, Menina Linda. É muita música, vamos relembrar juntos com o público de Feira; cantaremos juntos o percurso todo.
Correio da Cidade – Esse ano, segundo informações da imprensa de Salvador, você desistiu de desfilar no carnaval de Salvador e defende uma revitalização da festa. O mesmo pensamento é defendido por Carlinhos Brown. Quais os principais aspectos que devem mudar para fazer o carnaval de Salvador reviver os bons tempos?
Netinho - Alysson, sobre essa pergunta sobre o carnaval de Salvador, tenho uma coisa a dizer: sempre fui apaixonado pelo carnaval de Salvador, desde a minha adolescência. Quando eu cheguei em Salvador aos 9 anos e comecei a ver o movimento dos trios elétricos que eu não conhecia. E até hoje, depois de quase 30 anos de carreira, que completo ano que vem, continuo sendo um apaixonado pelo carnaval de Salvador. Então o que eu tenho a dizer a você é que eu desejo sempre o melhor para o carnaval, que seja uma festa para o povo, o carnaval organizado, que atenda ao mesmo tempo o folião, blocos de trios e todas as ferramentas que tem na festa. Eu acho que tudo isso existe para contribuir, cada um de sua maneira, só é preciso alcançar o equilíbrio, em cada uma dessas ferramentas.
Correio da Cidade – Antes o artista vivia mais da venda de discos, CD’s e DVD’s. Hoje, com a internet, essa lucratividade se concentrou mais nos shows. Como você vem se preparando para estar de frente, num retorno de carreira, nessa nova configuração que as mídias sociais se apresentam para o público?
Netinho - Muito boa sua pergunta. Realmente o artista vivia mais de vendas de discos mas eu tenho uma particularidade. Na minha carreira inteira, eu nunca vivi de vendas de discos, embora sempre vendi muito. Quando gravei “Mila’ ao vivo, vendeu mais de 3 milhões de cópias, no Brasil e no mundo e até hoje vende. Mas eu sempre vivi de shows. E quando parei porque adoeci em 2013 eu descobri uma nova vertente para viver da música sem ser baseada nos shows que foi a venda digital de músicas. Com toda essa transformação tecnológica que o mundo teve, a música não ficou de fora. A venda de discos passou rapidamente de venda física (de CD, LP, Fita Cassete), para a venda digital. Tenho investido muito hoje na inserção de MP3 nas mídias sociais
Correio da Cidade – Durante todo o seu problema de saúde você recebeu carinhos de fãs de todos os lugares, de artistas baianos e nacionais. Acompanhamos um Netinho cada vez mais maduro e cheio de força de vontade, sendo exemplo de superação para muitas pessoas. Todo esse processo influencia de que forma para esse retorno? Como tudo isso refletirá na sua volta aos palcos?
Netinho - Eu digo a você que acredito que estou vivo hoje pela quantidade de orações que recebi quando eu adoeci, Alysson, em 2013. Recebi orações de todo o Brasil e de fãs pelo mundo inteiro. Recebia lá mesmo no Hospital Sírio Libanês, e mesmo sem condição de ler pela situação que eu estava, mas liam para mim coisas lindíssimas. Muitas pessoas, grupos de orações, então credito a isso, aos bons médicos que eu tive acesso, a Deus por eu estar vivo aqui agora conversando com você e lhe dando essas respostas. Tudo que eu passei, Alysson, as dificuldades com esse tempo de internação que tive e todo sacrifício para voltar com minha carreira com terapias, eu venho fazendo disso uma maneira de incentivar as pessoas, de motiva-las, mostrando para elas que qualquer pessoa pode superar qualquer coisa. Basta ter fé, acreditar que pode e tudo passa
Correio da Cidade – Além de toda energia que já conhecemos e a competência musical que é sua marca, o que o folião pode esperar nessa micareta?
Netinho - Nesse meu retorno a Feira, o folião pode esperar de mim um repertório positivo com músicas que falam de amor, de carinho, de paixão. Quem for atrás do meu trio, tiver a fim de paquerar, de namorar, vai estar no melhor lugar porque todo meu repertório é positivo, com músicas lindas, canções que marcaram e estão na memória da gente e que não vão sair nunca porque são músicas maravilhosas que elevam a autoestima de qualquer pessoa, é o que eu vou levar para Feira.
Colaboraram com a entrevista de Netinho ao Correio da Cidade, Emilia Dykeman, Cris Freire e William Ribeiro.
Crédito foto interior da entrevista : Hilso Junior/Click Interativo
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