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Cuidados paliativos aliviam sofrimento e levam bem-estar a pacientes

Sete hospitais públicos do Distrito Federal oferecem esse tipo de tratamento à população. Abordagem consiste em trabalho multidisciplinar para gar

04/10/2022 às 19h35
Por: Correio Fonte: Agência Brasília
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Foto: Paulo H. Carvalho / Agência Brasília
Foto: Paulo H. Carvalho / Agência Brasília

Segurar o primeiro neto nos braços, dizer palavras de carinho e repassar os principais valores da família era o maior sonho da dona de casa Maria Madalena Viana Soares, 60 anos. Paciente do Hospital de Apoio de Brasília (HAB), ela tem um quadro grave de câncer no pâncreas com metástase para o fígado.

Com quadro grave de câncer, a dona de casa Maria Madalena Viana Soares, 60 anos, está sob cuidados paliativos no HAB | Foto: Paulo H. Carvalho / Agência Brasília
Com quadro grave de câncer, a dona de casa Maria Madalena Viana Soares, 60 anos, está sob cuidados paliativos no HAB | Foto: Paulo H. Carvalho / Agência Brasília

A dona de casa foi internada no dia 8 de setembro, com a doença já em estágio avançado. Conforme avaliações médicas, sua expectativa de vida era, então, de menos de um mês. O câncer causou obstrução intestinal, que, por sua vez, provoca vômitos, tontura, falta de apetite e prisão de ventre. Mas, desde que chegou ao HAB, a vida de Maria mudou para melhor.

“Esse hospital me ensinou muito, muito mesmo. Me mostrou como a gente vive em conjunto. Essa rede de apoio nos faz muito bem, porque somos amparados por todos os lados”Maria Madalena Viana Soares, 60 anos, paciente do Hospital de Apoio de Brasília (HAB)

Isso porque a unidade é referência em cuidados paliativos, conjunto de práticas de assistência ao paciente incurável com o objetivo de oferecer qualidade de vida, dignidade e controle de sintomas. O trabalho é realizado por uma equipe multidisciplinar, formada por médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, dentistas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, nutricionistas, entre outros.

Assim, os sintomas de Maria acabaram e, aos poucos, ela recuperou o brilho nos olhos. “Esse hospital me ensinou muito, muito mesmo. Me mostrou como a gente vive em conjunto. Tudo é um complemento e essa rede de apoio nos faz muito bem, porque somos amparados por todos os lados”, completa Maria Madalena. “Quando a gente chega ao estágio que eu cheguei, você não pode focar na doença, porque se você focar na doença, você se entrega”, completa.

“A diferença entre como ela chegou e como ela está agora é muito grande. E acho que não teria outro lugar pra ela se sentir bem assim. Vamos aproveitar cada minutinho juntas”Mariana, 28 anos, filha de Maria Madalena

Dessa forma, ela pôde acompanhar a reta final da gravidez da filha Mariana, 28 anos, em casa, junto com a família, e o nascimento do pequeno André William, no último dia 28 de setembro. “Criar um filho não é exatamente uma receita para bolo, porque para cada um tem um efeito diferente, né? Mas o amor e o diálogo fazem a diferença em cada formação. Quero repassar isso a meu netinho”, diz Maria.

No dia 16 do mês passado, após oito dias internada, ela recebeu uma alta temporária para passar o fim de semana em casa. Caso o quadro de saúde se mantivesse estável, receberia alta definitiva. Se não, voltaria à internação para continuidade do tratamento. Ter a mãe de novo em casa foi uma alegria para Mariana e a irmã mais nova, Ana Clara, 23 anos.

Elas agradecem pelo serviço prestado pelo HAB, para onde Maria Madalena teve que voltar recentemente e continua sob cuidados médicos. “A diferença entre como ela chegou ao hospital e como ela está agora é muito grande. E acho que não teria outro lugar pra ela se sentir bem assim. Vamos aproveitar cada minutinho juntas”, afirma a gestante.

Tratamento

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o cuidado paliativo “previne e alivia o sofrimento, através da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicossociais ou espirituais”. Não há protocolos ou diretrizes, e as condutas são adequadas conforme a situação do paciente.

A chefe da Unidade dos Cuidados Paliativos do HAB, Elisa Marquezine, explica que nenhuma prescrição é igual à outra, mesmo que os pacientes tenham a mesma doença. “Os ajustes são feitos por meio do conhecimento da biografia do paciente para conseguir tratar o mais assertivamente os sintomas e as outras dimensões do ser humano, como espiritual e psicossocial”, explica a médica.

No Hospital Regional de Samambaia, são feitas reuniões com os pacientes e seus familiares antes do início do tratamento | Foto: Renato Araújo / Agência Brasília
No Hospital Regional de Samambaia, são feitas reuniões com os pacientes e seus familiares antes do início do tratamento | Foto: Renato Araújo / Agência Brasília

Segundo a médica paliativista Cristiane Almeida Cordeiro, do Hospital Regional de Samambaia (HRSam), o paciente é estudado antes de receber algum tratamento. São feitas reuniões com os familiares, estudo de prontuários anteriores e interconsultas, que são conversas com o paciente enquanto ele já está internado.

A médica paliativista Cristiane Almeida Cordeiro, do HRSam, explica que, na unidade, tanto paciente quanto familiares recebem cuidados | Foto: Renato Araújo / Agência Brasília
A médica paliativista Cristiane Almeida Cordeiro, do HRSam, explica que, na unidade, tanto paciente quanto familiares recebem cuidados | Foto: Renato Araújo / Agência Brasília

“Assim, conseguimos levantar todas as necessidades do paciente. Nas esferas física, psíquica, social e espiritual. E cuidamos da família, que acaba sendo negligenciada ou pouco acolhida no processo de adoecimento do paciente”, afirma Cristiane, que iniciou o trabalho na unidade em 2020.

A enfermeira Ana Catarine Carneiro, segunda integrante da equipe paliativista do HRSam desde o ano passado, acrescenta que a base da prática é a comunicação. “Conversamos com a família sobre cada tratamento e medicação que o paciente deve receber. Às vezes, pode haver alguma restrição religiosa ou algum pedido do próprio paciente. Tudo isso é observado e atendido”, ressalta.

A enfermeira Ana Catarine Carneiro, segunda integrante da equipe paliativista do HRSam, afirma que a base da prática é a comunicação | Foto: Renato Araújo / Agência Brasília
A enfermeira Ana Catarine Carneiro, segunda integrante da equipe paliativista do HRSam, afirma que a base da prática é a comunicação | Foto: Renato Araújo / Agência Brasília

Rede pública

O HRSam promove o tratamento paliativo para cerca de 45 pessoas por mês. As duas profissionais fazem a busca ativa dos pacientes, com leitura de prontuários para encontrar aqueles que podem se beneficiar com o tratamento, ou são comunicadas sobre a necessidade de atendimento pelos médicos da unidade.

Ainda neste ano, em busca de ampliar o número de profissionais especializados em cuidados paliativos, a equipe da unidade de Samambaia promoverá um curso gratuito para servidores da saúde. A proposta é difundir o conhecimento para que mais pessoas tenham acesso ao tratamento. A participação pode ser solicitada na Secretaria de Saúde.

No HAB, são oferecidos 18 leitos oncológicos e dez leitos geriátricos, além de 50 ambulatoriais, para o cuidado paliativo. A equipe é formada por nove profissionais de especialidades distintas.

Além das duas unidades, os hospitais de Base, Regional de Taguatinga, Regional da Ceilândia, Regional da Asa Norte e Materno Infantil de Brasília oferecem o tratamento paliativo. Há ainda os Núcleos Regionais de Atenção Domiciliar (NRADs), que promovem assistência multidisciplinar a pacientes oncológicos e estão em fase de treinamento para oferecer o serviço.

Na ala de cuidados paliativos oncológicos, são admitidos pacientes incuráveis com idade igual ou superior a 18 anos. O tratamento geriátrico é oferecido a pessoas com 60 anos ou mais, que apresentem demência em fase grave, ou indivíduos com 80 anos ou mais com fragilidade definida por médico, além de pacientes idosos com cardiopatias ou pneumopatias avançadas.

Informações gerais sobre a oferta do tratamento podem ser acessadas aqui .

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