O que cada um de nós pode fazer para construir um mundo mais inclusivo? O questionamento foi o ponto de partida para a realização de um projeto amplo na Escola Municipal Maria José Dantas Carneiro, situada no bairro Caseb, que nesta quarta-feira, 5, culminou na realização do Brechó da Inclusão. Dos 300 alunos matriculados na unidade de ensino, 38 têm algum tipo de deficiência – a mais comum é o autismo.
Com a participação dos familiares dos alunos e representantes das instituições localizadas no bairro, o brechó teve uma proposta completamente diferente dos bazares tradicionais. As peças foram confeccionadas pelas crianças e seus responsáveis a partir dos sentimentos vivenciados por quem é convidado, no cotidiano da escola, a refletir sobre a inclusão.
Paulo César Magalhães Santos foi conferir de perto a sandália de papel confeccionada pela irmã, Laura, de 10 anos, que adorou colocar a mão na massa para expressar a convivência com os colegas com deficiência. “Coloquei borboletinhas, coraçõezinhos e muito glitter, ficou tudo lindo. Elas significam o amor”, contou Laura Santos.
A dona de casa Lucicleide Costa Oliveira, mãe de Laisa e Luís Claudio, de 8 anos, se identificou com a proposta:“achei maravilhoso por que mostra o desenvolvimento das crianças e como elas convivem com os colegas. Gostei muito da proposta de um documento de identidade do agente de inclusão, ou seja, de alguém que se importa com o outro”,avalia.
Os filhos de Lucicleide integram a turma que confeccionou a maleta da inclusão.“O que devo carregar na minha bagagem e o que deve ficar de fora por que é um peso na hora de incluir”,aposta a professora Gabriela Cunha, que atua na Sala de Recursos Multifuncionais e é a idealizadora da mostra.
Qual é a sua medida para promover a inclusão?
Cada stand da mostra foi apresentado por uma das turmas da escola. Com muita criatividade, afeto e sensibilidade, os espaços da mostra conduziram o visitante a entender e participar de um mundo mais inclusivo. A partir das vivências, os produtores da mostra calçaram literalmente os sapatos do outro e descobriram, na prática, como se sente quem precisa ser incluído na sociedade.
“Fizemos esta pergunta aos pais: qual a minha medida para promover a inclusão?”, conta Gabriela Cunha. “Então, eles confeccionaram um personagem, representando a si próprio com sua medida, por exemplo, 1 m de amor, 1 m de aceitação, 0,30 de paciência, etc. A partir destas respostas, montamos um dos painéis”, explica a professora.
Outro stand apresentou as peças de roupas da inclusão confeccionadas a partir das palavras que devem ser priorizadas no momento de aceitar e respeitar o outro. A proposta era trazer as palavras positivas que devemos carregar na nossa vestimenta e quais palavras negativas devem ficar de fora do nosso vestiário.
Num outro espaço, os sentimentos vieram à tona ao pensar no convívio com o deficiente.“O que eu posso passar a sentir quando eu compreendo que todos nós somos diferentes, todos temos nossas limitações?”,pergunta a professora Gabriela. Neste stand, a turma produziu e expos sabonetes, aromatizadores e perfumes cuja proposta é sentir a inclusão.
A partir do sentido da visão, outra turma apresentou os óculos da inclusão: o que vejo quando olho pra uma pessoa com deficiência? O que meus olhos dizem a essa pessoa? E o que meus olhos podem dizer? “Na verdade, é um trabalho de construção e desconstrução sobre a deficiência. Conduzimos as crianças à validação do sentimento: por exemplo, eles ficam triste quando veem um colega deficiente e a gente explicou a eles que a gente pode dar um outro nome a esse sentimento”, observa a professora.
Já os professores confeccionaram um cachecol para representar a partilha dentro da escola e o contato com o outro profissional que oportuniza a aprendizagem todo o tempo. E os educadores que trabalham na Educação Especial trouxeram a “Farmácia da Inclusão”, com “medicamentos” que representam os sentimentos positivos capazes de transformar a sociedade num mundo mais inclusivo, entre os quais, o carisma complex, buscopaz, amorprazol, criativotril, alívio flex, risotril e as pílulas de paciência, respeito e tolerância.
A diretora da escola, professora Kelly Rosinholi, disse que o evento cumpriu o seu principal objetivo:“conseguimos levar a inclusão além dos muros da escola e alcançar a comunidade do bairro, com a participação dos familiares, dos profissionais que atuam no posto de saúde e no Centro de Referência de Assistência Social e principalmente os familiares que participaram de cada etapa”, avalia. Agora, o brechó passa a integrar o nosso calendário, comemora.
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