O Distrito Federal tem grande potencial para produção de uva. É um dos maiores consumidores per capita de frutas e tem condições climáticas favoráveis para o cultivo. Entre 2018 e 2021, o número de produtores no DF aumentou 122% (passou de 18 para 40), e a área plantada teve uma expansão de 62% (de 45,77 hectares para 74,56 hectares), com produção em regiões diversas, como Lago Oeste, Sobradinho, Planaltina, PAD-DF e Riacho Fundo.
“Temos duas estações bem definidas, a chuvosa e a seca, o que permite uma dupla poda, com aumento da produção no período seco e uvas mais doces. No período seco, as frutas absorvem menos água e ficam com maior teor de açúcar, o que é bom tanto para o paladar quanto para a produção de vinho”Felipe Camargo, coordenador de Fruticultura da Emater
Segundo o coordenador do programa de fruticultura da empresa, Felipe Camargo, apesar de não conseguir competir em área com outros estados, há a oportunidade de produzir uvas de ótima qualidade. Ele detalhou oportunidades e desafios para o cultivo da fruta no DF durante a Feira Nacional da Uva e do Vinho, realizada em agosto, em Planaltina.
“Temos duas estações bem definidas, a chuvosa e a seca, o que permite uma dupla poda, com aumento da produção no período seco e uvas mais doces. No período seco, as frutas absorvem menos água e ficam com maior teor de açúcar, o que é bom tanto para o paladar quanto para a produção de vinho”, afirma.
Em relação ao solo, Felipe explica que é fisicamente bom de ser trabalhado, por se tratar de estrutura plana e profunda. Entretanto, é quimicamente pobre, necessitando de correção para o cultivo de uva. “Feito isso, o solo da região tem todas as condições para uma excelente produção de uva”, disse.
De acordo com o IBGE (2020), a produtividade média de uva no DF é de 22 toneladas por hectare, enquanto a média nacional é de 19 toneladas por hectare. Mas, segundo Felipe, em relação à uva para vinhos, não importa a quantidade, mas a qualidade.
“Para vinho, 6 a 8 toneladas por hectare é excelente. No DF, as uvas têm entre 20 e 23 graus Brix [escala usada por enólogos para medir a proporção de açúcar na uva antes e durante a colheita]. Para a produção de vinho de qualidade, é preciso que as uvas tenham de 18 a 25 graus Brix”, explica.
Oportunidades
Apesar de a produção de uva no DF estar crescendo, ainda há muito espaço para novos produtores, já que esse quantitativo atende cerca de 10% da demanda local. Segundo o último levantamento feito junto à Ceasa, em 2019, das 400 toneladas das duas principais variedades de uva comercializadas na Ceasa, somente 43 toneladas foram produzidas no DF – 10,7% do total.
A curta distância entre as propriedades rurais e o centro da capital federal também é uma vantagem aos produtores, que podem oferecer frutas frescas aos mercados e consumidores
A variedade Niágara Rosada foi a de maior saída em 2019, com 270 mil quilos comercializados, dos quais 232 mil quilos foram “importados” de outros estados, contra 38 mil quilos produzidos localmente. Já a uva BRS Vitória teve 125 mil quilos vindos de outros estados e 5 mil produzidos no DF. A maior parte da produção local é das chamadas uvas de mesa.
Para Felipe, a curta distância entre as propriedades rurais e o centro da capital federal também é uma vantagem aos produtores, que podem oferecer frutas frescas aos mercados e consumidores, com um tempo de prateleira maior.
Além disso, aos que pretendem cultivar uvas finas para vinhos, é possível investir no enoturismo, como atividade de turismo rural para aumentar a renda da propriedade. E está próxima de ser inaugurada a Vinícola Brasília, construída por um grupo de produtores de uva do PAD-DF.
Desafios
A compra de mudas deve ser feita em viveiros certificados. Alguns contam com alta demanda e fila de espera de dois anos para fornecimento.
É preciso avaliar a disponibilidade hídrica da propriedade, já que um vinhedo com 2 mil mudas pode consumir 22,5 litros de água por dia, por planta
A outorga de água junto à Adasa também deve ser solicitada para o plantio. É preciso avaliar a disponibilidade hídrica da propriedade, já que um vinhedo com 2 mil mudas pode consumir 22,5 litros de água por dia, por planta.
Outro ponto importante são os custos de produção. No cultivo de uva para vinho, em espaldeira, o custo de implantação por hectare passa de R$ 125 mil, e a manutenção anual, de R$ 40 mil.
Já para uva de mesa, em latada (tipo de estrutura para condução do parreiral), os custos por hectare podem passar de R$ 185 mil para implantação e R$ 75 mil para manutenção.
Produtores do DF interessados no cultivo de uva devem procurar o escritório da Emater mais próximo da sua propriedade para orientações ( confira aqui os locais e contatos das unidades da Emater).
*Com informações da Emater