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Cratera avança no Quênia e sinaliza divisão do continente africano em dois.

Região afetada está na fronteira entre duas placas tectônicas que se afastam

03/04/2018 às 21h53 Atualizada em 03/04/2018 às 22h20
Por: Fonte: O Globo
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Reprodução
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NAIRÓBI — Eliud Njoroge estava em casa quando viu surgir uma rachadura no chão da casa onde vivia, em Mai Mahiu, no Quênia. Naquele momento, não teve dúvidas, sabia que não se tratava de uma falha na construção. Ele abandonou a residência com a esposa e convocou os vizinhos para retirar os pertences. Poucos dias depois, a construção foi engolida por uma cratera. A fissura que provocou a tragédia na vida de Njoroge se estende por vários quilômetros e, num futuro distante, deve dividir o continente africano em dois.

O local onde Njoroge vivia está sobre o Grande Vale do Rifte, uma região de intensa atividade sísmica na fronteira entre a placa tectônica africana com a somali. Em artigo publicado no site Theconversation.com, a pesquisadora Lucia Perez Diaz, da Universidade de Londres, explica que o vale se estende por cerca de 3 mil quilômetros, do Golfo do Áden, ao norte, até o Zimbábue, com uma estrutura geológica única formada por um fenômeno conhecido como rifte continental: o afastamento em direções opostas de duas placas tectônicas.

“As fendas são o estágio inicial da fratura continental e, se bem-sucedida, pode levar à formação de uma nova bacia oceânica”, explicou Lucia. “Um exemplo na Terra de onde este fenômeno aconteceu é o oceano Atlântico Sul, que resultou na separação da África da América do Sul há 138 milhões de anos”.

A estimativa é que a placa tectônica somali esteja se afastando da placa africana a um ritmo aproximado de 25 milímetros por ano. Nesse ritmo, o continente deve se partir em dois daqui a algumas dezenas de milhões de anos, mas isso não quer dizer que suas consequências não possam ser sentidas. A fissura que destruiu a casa de Njoroge surgiu em meados do mês passado, após semanas de fortes chuvas, inundações e tremores de terra. A rachadura com cerca de 15 metros de largura afetou outras residências e interrompeu o trânsito na principal rodovia da cidade.

— Eles construíram a estrada sem saber que existia uma falha geológica, por isso as empreiteiras estão em modo de espera, já que não sabem para onde a fissura seguirá — avaliou o geólogo David Adele, em entrevista à Reuters.

De acordo com o especialista, não é possível conter o avanço da rachadura, já que se trata de movimentos da crosta terrestre. Por isso, autoridades e a população devem ficar alertas, principalmente em períodos de chuvas, como o esperado para os próximos meses.

— As pessoas devem ficar em alerta, especialmente quando chove. Verificar se existem rachaduras, terras que estão afundando ou tremores — recomendou Adele. — As rachaduras avançam praticamente em linha reta, então é possível projetar. Se você avistar uma fissura vindo na sua direção, vá embora.

 
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