Piauiense de nascença, mas brasiliense de coração, Emanuel Souza Andrade, 35 anos, servidor do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), se tornou o primeiro instrutor e examinador de trânsito surdo do Brasil. No órgão desde 2012, ele passou a participar neste ano da banca examinadora do processo de avaliação prática para obtenção da carteira nacional de habilitação (CNH) para pessoas com deficiência auditiva.
“Agora a tendência é tornar o processo mais acessível e fazer com que as pessoas como eu encontrem menos dificuldades pelo caminho”Emanuel Souza Andrade, servidor do Detran-DF
A nova etapa na carreira de Emanuel se deu após a graduação em Língua Brasileira dos Sinais (Libras) na Universidade de Brasília (UnB), a formação em um curso na área e uma fase de teste em que acompanhava intérpretes de Libras nas bancas examinadoras do órgão. “Me sinto realizado e com vontade de sempre melhorar. No começo, foi um grande desafio seguido de intenso aprendizado diário”, afirma.
Mais do que quebrar paradigmas ao ser o primeiro examinador surdo do país, Emanuel almeja expandir a inclusão na área, prevista no Código de Trânsito Brasileiro, que garante a esse público acessibilidade comunicacional durante todo o processo. “Agora a tendência é tornar o processo mais acessível e fazer com que as pessoas como eu encontrem menos dificuldades pelo caminho”, comenta.
Para isso, o servidor integra o projeto Libras no Trânsito, do Detran-DF, que tem como objetivo oferecer cursos de trânsito para pessoas surdas, e também faz um mestrado na UnB no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Tradução em que pretende traduzir do português para Libras o processo de obtenção da CNH. “Para que os surdos sejam atendidos por meio da língua de sinais”, completa.
Criado pela Escola Pública de Trânsito (EPT), da Diretoria de Educação de Trânsito do Detran-DF, o projeto Libras no Trânsito concorre ao Prêmio Espírito Público na categoria Promoção da Diversidade
Chefe do Núcleo de Avaliação de Candidatos do Detran-DF, Fábio Eduardo de Oliveira acredita que a presença de Emanuel na banca vai melhorar a experiência dos candidatos surdos e com deficiência auditiva. “Imagino que, para o candidato, ao ter um examinador surdo, a comunicação é colocada em pé de igualdade. Que seja algo reconfortante. É algo extraordinário para a gente ter uma equipe bem preparada e plenamente capaz de se comunicar”, avalia.
Tradução em Libras
Em média, o Detran-DF tem de quatro a oito exames por mês que necessitam da comunicação em Libras. Antes do início do trabalho de Emanuel como examinador, o órgão contava com até quatro intérpretes de Libras se revezando na atuação de tradução durante os exames teóricos e práticos.
Desde 1975, uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) permite que pessoas surdas ou com deficiência auditiva possam participar do processo para tirar a CNH. Além disso, uma alteração no Código de Trânsito Brasileiro garante a esse público acessibilidade comunicacional em todas as etapas. Apesar da garantia da legislação, a acessibilidade ainda é bastante reduzida no Brasil.
A solicitação do intérprete costuma ser intermediada pela autoescola em que o candidato está matriculada com o Detran-DF. Os futuros condutores podem fazer o pedido em todas as etapas do processo, incluindo o exame teórico-técnico e o exame de direção veicular.
Libras no Trânsito
De criação da Escola Pública de Trânsito (EPT), da Diretoria de Educação de Trânsito, o projeto Libras no Trânsito visa promover a acessibilidade linguística com metodologia adequada para a comunidade surda, ao formar instrutores e examinadores surdos ou fluentes em Libras. A etapa é fundamental para viabilizar a oferta de turmas do curso teórico-técnico bilíngue português-Libras voltado à formação de condutores na obtenção da CNH.
Atualmente, a iniciativa concorre ao Prêmio Espírito Público na categoria Promoção da Diversidade. A votação popular que define o premiado com Menção Honrosa segue até 31 de outubro pelo site https://premioespiritopublico.org.br/votacao-popular-2022 .