A presença do enfermeiro obstetra na rede pública de saúde do Distrito Federal tem crescido. Antes de 2020, os centros obstétricos em 10 hospitais da capital e a Casa de Parto de São Sebastião somavam cerca de 70 profissionais. Hoje são 120 em atuação fazendo partos normais de baixo risco e auxiliando mães, bebês e pais durante o processo.
“Começamos a articular melhor a profissão dentro da Secretaria de Saúde. Em 2018 foi aprovada a possibilidade do concurso para enfermeiro obstetra”, explica a referência técnica distrital de Enfermagem Obstétrica da Secretaria de Saúde, Amanda Fedevjcyk De Vico. O primeiro concurso empossou 178 enfermeiros, que assumiram nos últimos três anos no enfrentamento à covid-19. Parte deles ainda continua fora dos centros obstétricos.
“Começamos a articular melhor a profissão dentro da Secretaria de Saúde. Em 2018 foi aprovada a possibilidade do concurso para enfermeiro obstetra”Amanda Fedevjcyk De Vico, referência técnica distrital de Enfermagem Obstétrica da Secretaria de Saúde
Especializados por meio de residência ou de programa de pós-graduação, os enfermeiros obstetras são responsáveis pelos partos normais de pacientes de baixo risco (o chamado risco habitual) e garantem as boas práticas durante todo o processo.
Cabe aos profissionais ações como respeitar as escolhas da mãe, monitorar a matriarca e o bebê, garantir a alimentação durante o trabalho de parto, estimular a mobilidade da mulher com a verticalização do parto, certificar o contato pele a pele entre a progenitora e o neném, e auxiliar os acompanhantes. Práticas que atestam partos de forma humanizada.
Os 10 centros estão no hospitais Leste (Paranoá), de Planaltina (HRP), de Samambaia (HRSAm), da Asa Norte (Hran), de Taguatinga (HRT), de Sobradinho (HRS), de Ceilândia (HRC), do Guará (HRGU), de Brazlândia (HRBZ) e Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib).
Primeiros cuidados
À frente da supervisão de enfermagem do Centro Obstétrico do Hospital de Ceilândia (HRC) há 13 anos, Suely de Jesus Cotrim conta, atualmente, com nove enfermeiras obstetras no local. “O trabalho é fazer o parto normal e dar o primeiro cuidado do bebê. São as enfermeiras que pegam e fazem os primeiros cuidados com as mães e os bebês”, explica.
“Ajudamos a reduzir a mortalidade materna, garantimos a comunicação efetiva e a proximidade da mãe com o bebê. São boas práticas recomendadas desde 1996”Raquel Ribeiro, enfermeira obstetra do HRC
Os partos efetuados pela equipe de enfermagem são aqueles classificados como risco habitual, em que a vitalidade da mãe e do bebê estão adequadas. “Essa triagem é baseada no pré-natal, na caderneta da gestante e nos exames. A partir dessas informações e com avaliação clínica, a cada hora vamos avaliando e classificando a permanência do risco ou não”, afirma a enfermeira obstetra do HRC Raquel Ribeiro Lira Diógenes. Casos reclassificados para risco relativo ou alto risco são realizados por médicos obstetras.
A atuação da equipe de enfermagem tem garantido o aumento do número de partos normais e de forma humanizada na rede, além de reduzir a mortalidade e os índices de sofrimento dos bebês e das mães. Segundo a Secretaria de Saúde, em 2019 e 2020, o número de partos normais feitos por enfermeiros obstetras foi de 1.604 e 1.681, respectivamente, contra 2,9 mil até agosto deste ano. No ano passado, o número atingiu 3.026.
“Ajudamos a reduzir a mortalidade materna, garantimos a comunicação efetiva e a proximidade da mãe com o bebê. São boas práticas recomendadas desde 1996”, diz a enfermeira Raquel. “O parto é um momento de respeitar a mulher, o bebê e a família. A mudança do modelo passa pela assistência, formação e gestão”, acrescenta.
Foi isso que a mãe Ana Claude Alves sentiu durante o parto da segunda filha, Alice Maria. As duas foram atendidas pelas enfermeiras obstetras do HRC durante as cinco horas do trabalho de parto. “As enfermeiras foram incríveis. Senti todo o cuidado da equipe, mesmo com a minha sensação de tensão”, revela.
Mudança de cultura
A enfermeira Fernanda Coelho do Nascimento, que foi interna do Centro Obstétrico do Hospital Regional de Ceilândia há três anos e voltou neste ano como concursada, lembra que havia uma resistência em relação à atuação dos enfermeiros especializados. “Percebo essa mudança de cultura. Hoje não só a equipe está muito mais aberta para a presença da enfermeira obstetra como a própria paciente. Já é uma atuação bem concreta e consolidada”, comenta.
Entre as mudanças, Fernanda destaca o pedido das mães e dos acompanhamentos para a pintura da placenta como recordação, o corte do cordão umbilical e a utilização de bola e cavalinho (equipamento que visa o relaxamento, aumento da dilatação e diminuição da dor) para ajudar no processo do parto.
A supervisora de enfermagem, Suely de Jesus Cotrim, conta que a ampliação da atuação da equipe de enfermagem obstétrica no centro já resulta em ações humanizadas no hospital durante o parto. “Percebemos que muitas das práticas que a gente não acreditava que poderiam ser feitas, hoje fazemos como se tivéssemos feito a vida inteira”, afirma.
De acordo com a supervisora, o local registrou a queda da taxa de episiorrafia (incisão cirúrgica no períneo) de 99% para 7%, do percentual de mulheres com laceração, e do índice de bebês com hipóxia (ausência de oxigênio suficiente nas células e tecidos corporais) de 12% para 0,8%.
Outras ações
Para além da realização de partos normais, as enfermeiras do Hospital de Ceilândia também atuam auxiliando os médicos nas cesarianas. “Naquele momento as mulheres precisam da gente. A enfermeira vai ter todo esse olhar de respeito para que a mulher receba um cuidado melhor”, destaca Suely.
Esse é o trabalho da enfermeira Marina Simpionato de Oliveira de Moraes. “A gente consegue dar um certo conforto e apoio emocional a elas. A gente orienta até como os acompanhantes podem ajudar neste momento e, principalmente, na recuperação. Procuramos ajudá-las no contato pele a pele e na amamentação”, define.
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