O desdobramento legal de um caso de corrupção que tem o presidente Michel Temer como um dos principais acusados - o chamado quadrilhão do MDB - deu mais um demonstrativo de como a força política do Planalto e a prerrogativa do foro privilegiado acabam por impor uma velocidade muito mais lenta para que os processos nos quais ele e seus ministros estão envolvidos. Nesta segunda-feira, o juiz federal Marcus Vinicius Reis, da 12ª Vara da Justiça Federal em Brasília, aceitou denúncia que torna réus duas pessoas do círculo íntimo do presidente: o coronel aposentado João Baptista de Lima Filho e o advogado José Yunes. Ambos são acusados de fazerem parte do esquema de arrecadação ilegal para o partido.
O caso nas mãos do juiz de primeira instância de Brasília nasceu da denúncia oferecida pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer e aliados, no ano passado, que incluía também os ministros Eliseu Padilha e Wellington Moreira Franco. A questão é que, para levar adiante a investigação contra o presidente, Janot precisava da autorização de um número de votos da Câmara dos Deputados, o que não conseguiu. Com a cúpula blindada, o Ministério Público Federal resolveu desmembrar a ação e fazê-la correr na primeira instância apenas para os acusados que não têm foro privilegiado (o direito de só ser julgado em instâncias superiores por causa dos cargos que ocupam). Entre os acusados, foram acrescentados os nomes de Yunes e Lima.
É a segunda vez em menos de 15 dias que os auxiliares de Temer frequentam o noticiário policial. Na semana retrasada, Yunes e Lima chegaram a ser presos durante a operação Skala, um desdobramento do inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal e que apura supostas irregularidades em mudanças de regras portuárias para beneficiar uma empresa. Temer também é alvo desse inquérito, que pode embasar a apresentação de uma terceira denúncia contra ele - se isso acontecer, a Câmara será mais uma vez questionada se autoriza ou não que o presidente se torne réu.
Yunes e Lima são acusados de terem trasladado propina para o esquema com base em depoimentos dos delatores da Odebrecht e da JBS.
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