Inverno de 1996. Próximo ao período junino daquele ano, um grupo de moradores da Rua Modesto Gusmão resolveu se organizar e formar uma quadrilha junina para se apresentar nas festas promovidas na própria rua, no centro da cidade de Santo Estevão.
Apenas marcando passos e se divertindo nos eventos entre amigos, talvez eles jamais imaginassem que 22 anos depois estariam prontos para contar a história de sua cidade misturando espetáculo de dança, música e muito teatro. Estamos falando da quadrilha Junina Juventude.
Tema deste ano | O ensaio, marcado para as 10h da manhã deste domingo (15), já foi suficiente para mostrar porque eles vêm ai pra sacudir o público nesse período de São João. Já na poesia que narra a abertura da apresentação, o tema é sugerido: “Caso ou não caso? Eis a questão. Só vai depender do santo fujão”, numa alusão clara sobre a história do surgimento de Santo Estevão. Nos versos seguintes surgem a perfeição do enredo que irá mexer com a lembrança do público ao reviver passagens culturais que marcaram a vida da cidade de Santo Estevão.
A coreografia é comandada por Clayton Gomes e 50 componentes da Junina Juventude mostram um pouco do que está por vir. No ensaio era nítido o brilho em cada olhar e a garra que vão levar para as apresentações - que começam 9 de junho, durante mais uma edição do Forró da Modesto.
Tradicação | Desde a sua fundação, há 22 anos, a quadrilha Junina é majoritariamente formada por moradores da Modesto. E a tradição vai passando para as gerações seguintes. Luiza Pinto, 32 anos, é um exemplo claro dessa devoção pelo grupo. “Faço parte da segunda geração da quadrilha junina e hoje participo, doando todas as minhas forças para que tudo saia perfeito”, conta a jovem, que acompanha seu filho de 12 anos, que também se apresenta na quadrilha. “Eu me emociono a cada ensaio. É pura felicidade participar Juventude, pois mexe com a gente, é nossa cara”, contou.
O diretor do grupo, Getúlio Sacramento relembra que a garra dos componentes e comissão organizadora não vem de agora. “Já chegamos a nos apresentar com roupas de papelão porque não tínhamos dinheiro para bancar as vestimentas e adereços, mas nada desestimulou a gente”, relembra ao narrar que em 2011, também por falta de recursos financeiros, o grupo se apresentou caracterizados de moradores de rua e foi maior sucesso. “Talvez essa foi uma das nossas mais empolgantes apresentações, não só pelas dificuldades que enfrentávamos na época, mas pela criatividade que funcionou e encantou tanta gente que dançou ou assistiu aquela apresentação”, disse. Getúlio e Jackson Conceição assinam a direção geral do grupo, ao lado de Adriana, Fernanda e Luana. Além da diretoria e coreógrafos, o grupo ainda conta com o apoio de arte dos professores Vanderleia e Edésio Nascimento.
A meia centena de componentes é formada por pessoas com idades que variam de 11 a 45 anos de idade. E para Getúlio, talvez essa mistura de gerações é que dá o tom da empolgação do grupo, que não se limita a se apresentar somente na cidade. Eles já levaram o nome de Santo Estevão para municípios como como Feira de Santana, quando certa vez, participaram de um campeonato estadual de quadrilhas juninas organizada pelo SESI. Eram 48 grupos competidores e eles ficaram entre os 12 mais bem avaliados.
Preparação | Para alinhar toda coreografia com representação teatral, eles ensaiam por mais de 5 horas divididos entre os sábados e domingos. Além do tempo dedicado ao treino, eles se dividem para correr contra o tempo para arrecadar valores que custeiem as novas roupas e adereços, que estão calculadas em aproximadamente R$ 180 cada. Para isso estão elaborando uma rifa com prêmios personalizados e comercializam na Fênix Serviços, os brindes como chaveiros, camisas, copos, canecas e sandálias. Tudo com a marca da Junina Juventude.
Enquanto ensaiam e correm atrás para cobrir as despesas, eles vibram na expectativa de sua apresentação no Arraiá da Modesto, no São João de Santo Estevão e tantas outras apresentações que vem por aí. E não dá para imaginar onde irão ancorar, pois, certa vez, foram convidados até pelo padre da paróquia local para uma apresentação em um evento religioso. Até lá, o que resta é esperar para as surpresas, os cenários, o brilho do grupo... esperar confiante, esperar com coração acelerado, na certeza de grandes emoções, porque eles vem aí.
Reportagem | Alysson Ribeiro | Correio da Cidade
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