`Primeira indígena do povo Paumari – aldeia no sul do Amazonas – a entrar em uma universidade, a estudante de direito Ingrid Rodrigues, de 20 anos, tem sonhos ainda mais altos: ser a primeira indígena do país a se tornar juíza.
Cursando o primeiro semestre na Universidade de Brasília (UnB), a jovem contou com o apoio de uma vaquinha na internet para juntar o dinheiro e, então, pegar dois voos do Norte do país até Brasília. Não fosse a ajuda da rede de amigos, a opção seria encarar seis dias de barco pelo rio Purus até Manaus e, de lá, mais três horas de viagem aérea até a capital do país.
"Ser estudante indígena na UnB é saber enfrentar os obstáculos, porque tem pessoas que olham com curiosidade boa, mas tem aqueles, da sociedade não indígena, que idealizam o índio de uma forma que ele não é", afirma. "Às vezes, é por falta de conhecimento e uma certa ignorância em relação a nós".
"Muitas pessoas ficaram impressionadas com minha aprovação, mas foi bom porque despertou uma coisa no meu povo, de que é possível sonhar e realizar, tanto que eu estou aqui."
"Tem pessoas que veem o indígena somente da forma que elas idealizam: que não tem internet e não é civilizado. Se o indígena sai da sua aldeia, ele continua como indígena, tendo que se adaptar, mas continua sendo", afirma.
Apesar dos olhares, a estudante paumari conta que já se sente tranquila em ver outros alunos que também vieram de aldeias para estudar na UnB. Neste semestre, 64 indígenas se matricularam na instituição. No ano passado, a universidade contabilizava 167 alunos com essa etnia.
Na primeira viagem para fora de Lábrea – cidade amazonense com 38 mil habitantes –, e sem conhecer ninguém na região central do país, Ingrid diz ter trazido na mala um misto de vontade, sonhos e incertezas.
Apesar do sucesso na primeira parte da jornada, a estudante conta que, em apenas um mês de aulas, as dificuldades já apareceram. Filha de um professor e de uma recepcionista, Ingrid diz ter dinheiro para se manter na universidade até o fim deste mês.
Acolhida por uma outra estudante indígena, ela aguarda o resultado de uma seleção para receber o auxílio-moradia da UnB. A lista de convocados deve ser publicada na próxima terça-feira (24).
Uma paumari na UnB
A dificuldade em se manter na universidade é apenas mais uma na jornada da jovem dedicada a concluir o curso de direito. Para ela, se tornar juíza e voltar para aldeia onde vivia é a meta principal.
"Meu povo está muito feliz por ter a primeira estudante indígena paumari na universidade. Até então éramos um povo desconhecido, sem muitas referências", explica. "Os jovens agora estão motivados a estudar e a começar a sonhar mais", afirma Ingrid.
Sobre ser uma estudante indígena na UnB, Ingrid conta que, em apenas um mês, aprendeu a conviver com os olhares e as perguntas curiosas dos colegas. Em meio à sala de estudos da Faculdade de Direito, ela passaria como mais uma aluna que usa o próprio notebook, livros e o celular para estudar. Os traços indígenas, conforme conta, chamam a atenção.
"Ser estudante indígena na UnB é saber enfrentar os obstáculos, porque tem pessoas que olham com curiosidade boa, mas tem aqueles, da sociedade não indígena, que idealizam o índio de uma forma que ele não é", afirma. "Às vezes, é por falta de conhecimento e uma certa ignorância em relação a nós".
"Tem pessoas que veem o indígena somente da forma que elas idealizam: que não tem internet e não é civilizado. Se o indígena sai da sua aldeia, ele continua como indígena, tendo que se adaptar, mas continua sendo", afirma.
Apesar dos olhares, a estudante paumari conta que já se sente tranquila em ver outros alunos que também vieram de aldeias para estudar na UnB. Neste semestre, 64 indígenas se matricularam na instituição. No ano passado, a universidade contabilizava 167 alunos com essa etnia.
Índio x tecnologia?
Como qualquer jovem estudante que gosta e abusa das tecnologias, Ingrid faz cada vez mais uso da internet e conteúdos online para estudar e "correr atrás" das leituras – um acesso que não foi possível na época do colégio.
A aldeia Paumari, onde vivem cerca de 5 mil indígenas, tem apenas escolas do ensino fundamental, do 1º ao 9º ano. Para continuar os estudos, no ensino médio, o estudante indígena precisa se descolar para cidades vizinhas como Lábrea, onde Ingrid morou nos últimos anos.
Motivada pela divulgação da cultura do próprio povo, a estudante conta que usa a tecnologia a seu favor – instrumentos que "só vieram para ampliar o conhecimento". É através dela [internet], que o indígena pode mostrar sua cultura e sua dança".
G1
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