A cada dez vagas oferecidas em faculdade particulares da Bahia, quase seis estão ociosas. O levantamento foi feito pelo site Quero Bolsa e divulgado anteontem, com base no Censo da Educação Superior, feito pelo Ministério da Educação (MEC). Segundo os dados, a Bahia é o terceiro estado com maior número de vagas não preenchidas – são 56,8% de oportunidades perdidas - ou seja, só 43,2% são preenchidas.
Em vagas ociosas, a Bahia fica atrás apenas do Rio de Janeiro (57,8%) e de São Paulo (57,3%). O percentual está acima até da média nacional, de 52,9%.
Para o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras dos Estabelecimentos de Ensino Superior da Bahia (Semesb Abames), Carlos Joel Pereira, o motivo de tantas vagas em aberto é a burocracia que os candidatos enfrentam na inscrição do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e no Prouni.
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“Existem dois fatores que contribuem para essa ociosidade. Primeiro, o prazo para os candidatos apresentarem a documentação, que é muito curto. Segundo, falta disponibilizar os dados para as instituições de ensino trabalharem os potenciais candidatos aos cursos, apontando possibilidade de transferências de cursos ou horários, por exemplo”, afirma.
Proporção
Na Bahia, são 108 faculdades privadas e 897.895 estudantes matriculados. De acordo com dados do Censo do Ensino Superior de 2016, as instituições privadas já respondiam por 75,3% do total de matriculados nos cursos de graduação de todo o país. Na Bahia, para cada estudante cursando a graduação presencial em uma instituição pública, há 2,2 em privadas.
De um modo geral, o número de matrículas na rede particular de ensino superior caiu em 2016 com relação a 2015 – de 6.075.152 em 2015 para 6.058.623 em 2016. Segundo Carlos Joel Pereira, até 2014, o número de estudantes dessas instituições estava em crescimento no país - não era diferente na Bahia. Por isso, muitas faculdades fizeram reformas e ampliaram a capacidade de atendimento.
Mas, depois das alterações do governo federal no programa, em 2015, houve redução na quantidade de candidatos – uma mudança que as faculdades não esperavam.
Surpresa
“Até o final de 2014, a demanda estava inflada por conta das muitas linhas de crédito que o governo oferecia. A partir de 2015, quando o processo do Fies foi revisto, as instituições começaram a sentir as mudanças”, explica o diretor de Inteligência de Mercado do Quero Bolsa, Pedro Balerine.
Desde então, instituições adotam medidas para tentar estancar os prejuízos. Uma delas é a redução no quadro de pessoal - a administração e docentes - e criando financiamento próprio para atrair novos alunos.
A estudante de Direito Leiliane Melo, 35 anos, está no 9º semestre do curso. Ela tem 100% de financiamento e contou ao CORREIO que está enfrentando problemas para renovar a matrícula.
“Tem muita gente que também tem enfrentado problemas. Caso eu perca o financiamento, terei que começar a pagar. Tem muita gente que não tem condições de arcar com a mensalidade. O meu contrato é de 100% e eu tenho que estar em cima para continuar, nem que seja por vias judiciais”, afirma.
Mudanças
A complementação da inscrição para os candidatos pré-selecionados da fila de espera do Fies encerra hoje. Este será o primeiro semestre após as mudanças anunciadas em dezembro de 2017. Na prática, mudaram as formas de financiamento.
Agora, o programa tem três modalidades de incentivo e a escala de financiamentos varia conforme a renda familiar do candidato, chegando a 100% do curso (leia ao lado).
Segundo o Ministério da Educação (MEC), estão previstas 310 mil novas vagas para 2018, sendo 100 mil a juro zero. O número oficial de estudantes que ingressaram no ensino superior através do Fies este ano será divulgado após a conclusão de todo o processo de inscrição.
Em nota, o MEC informou que as gestões passadas deixaram o Fies com uma inadimplência de quase 50% e com um Fundo Garantidor que só cobriria 10% das despesas do programa.
Ainda segundo o MEC, um diagnóstico do Ministério da Fazenda apontou que o ônus fiscal do programa em 2016 chegou a R$ 32 bilhões, valor 15 vezes superior ao custo apresentado em 2011. Por isso, o Fies mudou.
“Se o programa se mantivesse como concebido e projetado, se tornaria insustentável, com o Tesouro Nacional e o governo federal sem condição de mantê-lo, o que provocaria o fim da política”, diz a nota. Parte das mudanças feitas em 2017 busca corrigir esses problemas, mas ainda não há números que comprovem se as alterações surtiram efeito ou não.
Fies tem três tipos de financiamento
Quem pretende usar o Fies precisa ficar atento para saber se está dentro do perfil do programa. A partir do primeiro semestre de 2018, o governo federal implantou três modalidades de financiamento que alternam de acordo com a renda do candidato.
A primeira delas, chamada de Fies 1, seleciona candidatos com renda per capita de até três salários mínimos mensais. Nesse tipo de financiamento, o pagamento será feito a juros zero. São 100 mil vagas, sustentadas pelo Fundo Garantidor composto de recursos da União e aportes das instituições de ensino.
Já a segunda modalidade, chamada de Fies 2, é para estudantes que tenham renda familiar per capita entre três e cinco salários mínimos mensais. São 150 mil vagas destinadas a alunos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com recursos dos Fundos Constitucionais e de Desenvolvimento.
A terceira modalidade, classificada de Fies 3, também é destinada a estudantes que tenham renda familiar per capita entre três e cinco salários mínimos mensais, mas é para alunos de todas as regiões do Brasil. O benefício é custeado com recursos do BNDES.
Além disso, o estudante vai começar a pagar as prestações da dívida após o curso e de acordo com a sua realidade financeira, ou seja, a parcela do pagamento vai variar de acordo com o rendimento do estudante.
Outra mudança é que, antes, a dívida variava ao longo do curso, seguindo os reajustes da mensalidade. Agora, o candidato vai saber o valor total da dívida ao assinar o contrato.
Além do Fies, quem sonha com a universidade pode usar outros caminhos para ingressar no ensino superior. O Sisu é uma alternativa. O sistema informatizado do Ministério da Educação reúne vagas em instituições públicas de ensino superior e as oferece para candidatos que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Já o Prouni concede bolsas de estudo integrais e parciais de 50% em instituições privadas de educação superior, em cursos de graduação e sequenciais de formação específica. Para participar é preciso que o estudante seja brasileiro e não tenha diploma de nível superior.
Para entrar em cada um dos programas, os candidatos precisam ficar atentos aos prazos de inscrições. A nota do Enem é o critério usado para selecionar os candidatos. O período de inscrição do Exame começará no dia 7 de maio.
Cinco cursos reúnem 36,7% dos universitários do país
Além dos números de ociosidade nas vagas, a Quero Bolsa levantou os preços médios dos cinco cursos do ensino superior com mais alunos matriculados em dez capitais brasileiras: Direito, Administração, Pedagogia, Engenharia Civil e Ciências Contábeis. Juntos, eles somam 2,95 milhões de estudantes em instituições públicas e privadas, representando 36,72% dos universitários brasileiros.
Em Salvador, o valor médio cobrado pelas instituições de ensino para cada um dos cursos no primeiro semestre de 2018 é listado de acordo com o curso: Direito (R$ 1.281), Engenharia Civil (R$ 1.128), Administração (R$ 780), Ciências Contábeis (R$ 728) e Pedagogia (R$ 569). O cálculo leva em conta os valores integrais das mensalidades (sem desconto) em cursos presenciais de 25 instituições de ensino superior pesquisadas.
Cursos com mais alunos matriculados em Salvador e preços de mensalidades
Direito R$ 1.281
Arquitetura e Urbanismo R$ 1.238
Enfermagem R$ 1.200
Psicologia R$ 1.186
Engenharia de Produção R$ 1.146
Engenharia Civil R$ 1.128
Educação Física R$ 902
Administração R$ 780
Ciências Contábeis R$ 728
Pedagogia R$ 569
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