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Câmara reforça compromisso na luta contra feminicídio em sessão de homenagem a vítimas
Pablo Valadares / Câmara dos Deputados Deputadas fazem um minuto de silêncio em homenagem às vítimas de feminicídio Em sessão solene na Câmara do...
09/05/2023 14h20
Por: Correio Fonte: Agência Câmara de Notícias
Deputadas fazem um minuto de silêncio em homenagem às vítimas de feminicídio - (Foto: Pablo Valadares / Câmara dos Deputados)

Em sessão solene na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (9), realizada em homenagem às vítimas de feminicídio, deputados reforçaram compromisso na luta para diminuir números desse tipo de crime. A deputada Silvye Alves (União-GO), que já foi vítima de violência doméstica e pediu a sessão, lembrou que o Brasil é o quinto país em número de feminicídios no mundo, sendo a maior parte das vítimas mulheres negras.

Silvye destacou que 1.410 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2022, o que equivale a uma mulher morta a cada seis horas – um crescimento de 5% em relação a 2021. “Espero que ninguém de vocês passe por isso", disse a deputada ressaltando que essa violência pode ser incapacitante. "[Muitas mulheres] Não conseguem mais levantar da cama, mães tomando medicamento para depressão”, lamentou.

Depoimento
Na sessão, as deputadas ouviram o depoimento de Bárbara Penna, que sobreviveu a uma tentativa de feminicídio por parte do ex-companheiro em 2013. Ela teve 40% do corpo queimado e perdeu dois filhos pequenos em incêndio provocado pelo agressor. Na ocasião, também morreu um vizinho idoso que tentou ajudar.

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Na Câmara, ela destacou que continua sofrendo violência, pois tanto o Judiciário quanto a família do agressor foram omissos em garantir reparações por danos morais, físicos e psicológicos. Ela reclamou ainda da omissão do Estado em garantir a segurança física e psicológica dela, que já foi ameaçada pelo pai do agressor além de receber vídeos de ameaças do ex de dentro da cadeia.

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“Sem falar no julgamento em 2019, em que ele foi considerado inocente pela morte do vizinho idoso, parcialmente culpado pela morte dos filhos e culpado pela minha tentativa de homicídio, pois em 2013 ainda não havia sido criada a tipificação de feminicídio", disse Bárbara. "Como se não bastasse, eu fui processada pela Defensoria Pública, que me obrigou a não falar ou reclamar do júri. Ou seja, eu fui censurada até no meu direito de me expressar com indignação contra a Justiça brasileira”, criticou.

Bárbara já passou por mais 200 cirurgias reparadoras e estéticas e ainda necessita de outras, mas reclama da demora no atendimento. “Eu espero há nove anos um único procedimento. Ou seja, a mulher vítima de violência não sofre só no momento das agressões.”

Silvye Alves pediu a realização da sessão - (Foto: Pablo Valadares / Câmara dos Deputados)

Iniciativas da Câmara
Em 2015, os parlamentares aprovaram a Lei do Feminicídio, que tornou o assassinato de mulheres pela condição de ser mulher homicídio qualificado e o colocou na lista de crimes hediondos, com penas maiores.

Na Câmara estão em funcionamento três frentes parlamentares para tratar do tema: do Fortalecimento da Mulher, em Defesa da Saúde da Mulher e em Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica. Esta última foi lançada nesta terça-feira (9) e será coordenada pela deputada Silvye Alves.

Além das leis
A deputada Maria do Rosário (PT-RS), 2ª secretária da Câmara, ressaltou que não bastam só leis. “A base legislativa e jurídica está determinada." Segundo ela, o que falta para superar essa "verdadeira epidemia de violência contínua" é atuar com rigor da lei, "responsabilizando aqueles que cometem este crime, porque também é preciso dizer basta de impunidade!".

Conforme ela, é preciso combater comportamentos machistas e de ataques às mulheres, lembrando que 33,4% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais já sofreram violência física ou sexual por parte de parceiros ou ex-parceiros (dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública).

Maria do Rosário pediu a aprovação pelo Senado Federal da proposta de sua autoria, já aprovada pela Câmara, que cria pensão especial para órfãos do feminicídio (PL 976/22).

Projetos de lei
Presidente da Comissão dos Direitos da Mulher, a deputada Lêda Borges (PSDB-GO) informou que o colegiado analisa mais de 200 projetos sobre direitos da mulher, e a maior parte trata de violência contra a mulher. Ela destacou a importância da Patrulha Maria da Penha para coibir os casos.

Presidente da ONG Por Elas, Igana de Castro manifestou apoio a dois projetos de lei: o que criminaliza a misoginia (890/23 e 872/23) e o que prevê prisão preventiva no caso de ameaça contra mulheres (PL 821/23).

Muitas servidoras das forças de segurança pública de Goiás compareceram à sessão - (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Iniciativas do governo
Secretária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Denise Motta Dau, informou que o Ministério das Mulheres tem trabalhado em duas vertentes. “Primeiro no fortalecimento dos serviços de atendimento das mulheres em situação de violência, desde o fornecimento de equipagens para as Deans, patrulhas Maria da Penha, fortalecimento das coordenadorias e secretarias de políticas para as mulheres; criação de novos serviços", disse Denise lembrando que no último dia 8 de março (Dia da Mulher) o presidente Lula reativou o programa Mulher Viver sem Violência, com a instalação de 40 novas Casas da Mulher Brasileira.

A segunda frente de trabalho, completou a secretária, é a prevenção. Segundo ela, é muito importante, para a prevenção do feminicídio, a mudança de cultura machista, que prega o ódio às mulheres e divulga a misoginia, por exemplo, por meio das redes sociais. Ela informou que o governo está reconstruindo o Pacto Nacional de Prevenção aos Feminicídios.

Incentivo às denúncias 
O deputado Yury do Paredão (PL-CE), que teve a irmã de 26 anos assassinada pelo namorado em março, ressaltou que a violência começa com um empurrão, um grito, e não se sabe como termina. Ele chamou a atenção para a importância de se denunciar esses atos e de se conscientizar, desde a escola, homens e mulheres.

A deputada Soraya Santos (PL-RJ) frisou a importância de se combater inclusive a violência psicológica, que, em suas palavras, achata a mulher. “Não adianta dizer que defendo a família, seja homem ou seja mulher, se eu fecho os olhos para a violência doméstica”, disse.

Empoderamento
Já a delegada Ana Elisa, da Delegacia Estadual de Combate à Violência contra a Mulher de Goiás, considera essencial a presença de mulheres em espaços de poder, para se combater a violência contra elas. “Como vamos transformar a sociedade se ainda não temos voz ativa?”, questionou. “No Brasil mais de 50 mil mulheres são agredidas por dia, é um estádio de futebol lotado por dia de mulheres sendo agredidas”, comparou.

Ela ressaltou que a violência ocorre dentro de casa, por motivos como não querer se relacionar com o parceiro, além das inúmeras agressões no ônibus e no trajeto para casa.

A deputada Delegada Ione (Avante-MG), por sua vez, lembrou do baixo número de delegacias de mulher no País e da importância da autonomia econômica da mulher para que ela saia do ciclo de violência.

Já a deputada Duda Salabert (PDT-MG) salientou que o Brasil há 13 anos lidera o ranking de País que mais mata travestis e transexuais no mundo, sendo que 80% desses assassinatos ocorreram com requinte de crueldade, o que expressa o ódio ao feminino.

 

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