Senado Federal Senado Federal
Debatedores elogiam reforma tributária e pedem atenção com recursos da educação
O projeto de reforma tributária ( PEC 45/2019 ) e seus efeitos no financiamento do setor de educação foi tema de audiência pública na Comissão de E...
15/08/2023 19h35
Por: Correio Fonte: Agência Senado
Vice-presidente da CE, a senadora Professora Dorinha Seabra comandou a audiência - Foto: Pedro França/Agência Senado

O projeto de reforma tributária ( PEC 45/2019 ) e seus efeitos no financiamento do setor de educação foi tema de audiência pública na Comissão de Educação (CE) nesta terça-feira (15). Os especialistas ouvidos pelo colegiado consideram aspectos positivos a simplificação das regras, o fim da guerra fiscal e a redução dos benefícios tributários de baixo critério. Para eles, as modificações podem reforçar a transferência de recursos para a educação. Porém, para eles, a realização dessas expectativas depende de regulamentação e do acompanhamento dos órgãos de controle.

Auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), Eduardo Favero comentou um estudo realizado em conjunto com os tribunais de contas dos estados e municípios relacionadas às distorções da tributação sobre o consumo: os auditores verificaram uma imensa quantidade de renúncias fiscais, muitas vezes sem metas definidas e com baixa transparência e falta de neutralidade tributária, dificultando a orientação de investimentos; normas complexas que geram custos para o Fisco e para os contribuintes; e aplicação de tratamento tributário distinto dentro do mesmo setor e entre setores.

— Um grande exemplo que identificamos é o setor das indústrias de transformação: o ICMS dentro desse setor varia entre 9% e 35%. No mesmo setor, empresas diferentes são tributadas com alíquotas com uma diferença que chegava a 26%.

Continua após a publicidade

Favero também apontou a resistência política às propostas de simplificação tributária desde a promulgação da Constituição e a falta de obstáculos aos estados e ao Distrito Federal para a concessão de benefícios fiscais não autorizados pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). Porém, segundo a auditoria, a padronização da nota fiscal eletrônica (NF-e) deverá favorecer a transição para uma futura implementação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) na reforma tributária.

Continua após a publicidade
Continua após a publicidade

Paulo de Sena Martins, consultor legislativo da Câmara dos Deputados, considera que os dados do TCU apoiam a necessidade de uma reforma tributária — possibilidade já prevista na Emenda Constitucional 108 e replicada na legislação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação ( Fundeb - Lei 14.113, de 2020 ) de modo a preservar o financiamento da educação.

Ele repercutiu a preocupação com a neutralidade tributária, mas alertou que é preciso ver como a arrecadação se comportará na realidade. Entre outros aspectos, Martins chamou a atenção para o possível impacto da extinção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), do qual 18% são automaticamente destinados à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE), e comemorou a regra que torna o futuro Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) — que poderá ser estabelecido no lugar do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) — imune a incentivos e benefícios fiscais ou financeiros.

— Isso não deixa de ser uma boa notícia. Quando há guerra fiscal ou um excesso de incentivos fiscais, deixa de haver a vinculação de imposto e o recurso direcionado à educação. A inibição da guerra fiscal tende a beneficiar o financiamento da educação.

Representando o Conselho Nacional de Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (Consefaz) e o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), André Horta criticou os efeitos da forma brasileira de federalismo — sob a qual, conforme ressaltou, os estados tiveram grandes perdas — e ressaltou a participação do Consefaz na aprovação da Lei Complementar 160, de 2017 , classificada por ele como “quase uma solução” para a guerra fiscal brasileira.

— Incentivos fiscais para reduzir desigualdades regionais, todos os países usam em todos os federalismos. O que precisa haver é regulamentação: não pode haver esse leilão que prejudica o financiamento público, a educação e todos os setores — avaliou.

Horta disse que “neste momento” não vê grandes prejuízos para a educação pública na reforma tributária, que deverá promover uma “reacomodação” das receitas tributárias — estados menos desenvolvidos terão mais receita, tornando-se menos dependentes de repasses. Ao cobrar uma melhora da qualidade da carga tributária no Brasil, ele criticou as avaliações predominantes sobre os impostos altos: as estatísticas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o país cobra tributos relativamente elevados sobre bens e serviços, mas baixos sobre renda e ganho de capital.

— Dizem “ninguém aguenta mais pagar imposto” como se tudo fosse a mesma coisa, como se um sujeito que ganha um salário mínimo e um milionário estivessem na mesma situação, como se não se desse tratamento diferente a um e a outro.

Milene Dias Cunha, vice-presidente de Relações Jurídico-Institucionais da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas (Atricon), elogiou a PEC da Reforma Tributária. Ela citou dados do Banco Mundial sobre o elevado gasto de tempo com formalidades relacionadas ao pagamento de tributos.

— A proposta atualmente apresentada tem o objetivo de simplificar e desburocratizar o sistema tributária para alcançar mais eficiência, equidade e transparência na tributação. Já vemos como uma boa iniciativa.

Porém, ela refletiu a preocupação com os efeitos indiretos das novas regras tributárias sobre o financiamento da educação, e pediu cuidado para evitar possíveis retrocessos nesse aspecto.

Vice-presidente da CE e autora do requerimento de audiência, a senadora Professora Dorinha Seabra (União-TO) questionou até que ponto os recursos da educação serão preservados ao longo dos anos, e também alertou para a falta de critério na concessão de renúncias e isenções fiscais sob os critérios atuais.

— Quando buscávamos encontrar fontes [de financiamento] para o Fundeb, uma seria a possibilidade de avaliação [das renúncias fiscais]. Não têm nenhum tipo de balizamento para sabermos sua efetividade e seu beneficiamento para a população. E o volume de renúncia fiscal no Brasil é altíssimo, sem sabermos qual tipo de retorno.