Desde 2006, times da Europa vencem a competição. Em 2018, apenas Brasil e Uruguai poderiam quebrar esse ciclo, mas acabaram perdendo para Bélgica e França, respectivamente.
Agora, a disputa fica entre Rússia, Inglaterra, Suécia, Croácia, França e Bélgica - essas últimas vão se enfrentar na semifinal.
Nessa configuração, completam-se 16 anos sem vitórias de times sul-americanos, o outro continente que já venceu Copas. A Seleção Brasileira foi o último time de fora da Europa a ganhar uma edição, em 2002, no Japão e na Coreia.
Quatro anos depois, a Itália venceu o campeonato e conquistou seu quarto título. Em seguida, a Espanha ganhou o seu primeiro e, em 2014, Alemanha levou a taça para casa também pela quarta vez.
Mas por que essa hegemonia está ocorrendo?
Para Tim Vickery, colunista da BBC News Brasil e especialista em futebol, o intercâmbio de jogadores de vários países pode ser um dos fatores que melhoraram o futebol europeu.
"Nos últimos 25 anos, o futebol mudou muito. Os principais jogadores e técnicos do mundo vão se concentrar em poucas ligas, como a inglesa, a espanhola e a alemã", diz.
O jornalista esportivo e pesquisador de futebol Celso Unzelte, por outro lado, acha que a globalização do esporte fez com que o jogo latino piorasse, e não necessariamente que o europeu melhorasse.
"O abismo entre o futebol de clubes na América Latina e na Europa já é enorme e só aumenta. O que sobrou para nós é produzir jogadores, mão de obra. Nossos campeonatos são de terceira divisão mundial. Isso porque, com o futebol como bussiness que temos hoje, os times do nosso lado não têm como competir, não têm como reter os maiores talentos."
O resultado, diz ele, é que os jogadores ficam muito dispersos pelo mundo, têm poucas oportunidades de jogar juntos. Para ele, a Seleção Brasileira, por exemplo, "não é uma seleção, é uma legião de estrangeiros que jogam juntos."
Os técnicos também acabam sendo piores. Tite, para ele, é uma exceção.
Além disso, diz ele, as confederações européias são mais organizadas, se comparadas, por exemplo, à CBF e à AFA, associação argentina.
Na avaliação dele, o futebol mais competitivo hoje não é o de seleções, mas o de clubes. "O principal campeonato é a Champions League."
Mesmo a produção de bons jogadores, para ele, pode estar ameaçada. "Temos o DNA, a cultura, mas o futebol de várzea está perdendo espaço para a especulação imobiliária, as crianças dividem sua atenção com outras coisas. Na minha época, a única coisa que tinha era futebol. Hoje, não é assim."
Para Tim Vickery, as seleções sul-americanas, apesar de terem jogadores nos principais campeonatos da Europa, enfrentam dificuldades para se adaptar a novas maneiras e táticas de jogar.
"Os técnicos brasileiros não treinam grandes clubes europeus. O Tite até estudou na Europa, um dos únicos que foram lá e não ficaram (só) tirando selfies", explica.
Vickery cita uma contradição no futebol globalizado: enquanto a diferença entre o jogo das seleções diminui, entre os clubes, essa distância só aumenta. "Nessa Copa tivemos poucas goleadas, o que demonstra uma diferença menor. Por outro lado, grandes clubes europeus, como o Real Madrid, estão muito acima dos demais", diz.
Para Vickery, outra possível explicação é a presença de mais imigrantes naturalizados ou filhos de imigrantes em seleções europeias.
Um dos algozes do Brasil na Copa, o belga Romelu Lukaku é filho de pais gongoleses. Outro exemplo é Kylian Mbappé, o destaque da seleção da França, que está na semifinal.
Mbappé nasceu em Paris, mas seus pais são de origem congolesa e argelina. Já Paul Pogba, também nascido na França, tem pais de origem na Guiné.
"Os jogadores de futebol normalmente vêm da classe trabalhadora. E, na Europa, boa parte da classe trabalhadora é de imigrantes", diz Vickery.
Mas Vickery também vê uma melhora em outras seleções sulamericanas. "A Colômbia fez sua melhor campanha na última Copa, o Uruguai em 2010 também foi bem. A questão é que, na última década, Brasil e Argentina não chegaram para ganhar", diz.
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