O Ministério Público do Estado da Bahia promoveu na tarde desta quarta-feira, 29, uma reunião para intermediar tratativas que permitam a realização de uma pesquisa arqueológica na área que pode abrigar um cemitério de escravizados em Salvador. O encontro, que foi presidido pelo promotor de Justiça Alan Cedraz, coordenador do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do MPBA (Nudephac), e pelas promotoras de Justiça Cristina Seixas Graça, Luiza Amoedo e Lívia Sant’Anna Vaz, contou com a participação de integrantes da Santa Casa de Misericórdia, do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) e da pesquisadora Silvana Olivieri, doutoranda em Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. “O MPBA reuniu todos os órgãos que têm interesse na questão do patrimônio cultural material e imaterial para discutirmos uma minuta de um termo de cooperação, que será analisado pela Santa Casa de Misericórdia, que permitirá a realização da pesquisa arqueológica no local”, destacou a promotora de Justiça Cristina Seixas.
Na ocasião, ficou decidido que a Santa Casa de Misericórdia dará resposta acerca do aceite do termo de cooperação proposto pelo MPBA até no máximo dia 24 de fevereiro. Segundo as pesquisas da doutoranda Silvana Olivieri, o antigo cemitério estaria abaixo da área onde hoje atualmente funciona o estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré, área pertencente à Santa Casa de Misericórdia da Bahia. “Nosso objetivo é favorecer o diálogo para que as ações de resgate da memória sejam implementadas e seja feita a pesquisa”, afirmou o promotor de Justiça Alan Cedraz.
Também estiveram presentes os promotores de Justiça Augusto Matos, coordenador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente (Ceama); o chefe da assessoria jurídica da Santa Casa, Rômulo Dias; e representantes do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (Ipac); Fundação Gregório de Matos; e Instituto Juristas Negras. “Trata-se de um momento em que vamos resgatar a imagem e memória desse cemitério que recebeu restos mortais de muitas pessoas negras que não eram, naquela época, valorizadas, além da perspectiva dos restos mortais de pessoas que participaram da Revolta dos Malês e de outras revoltas pela liberdade dos escravos no Brasil”, destacou a promotora de Justiça Cristina Seixas. Ela complementou que as escavações podem contribuir na preservação e no resgate do patrimônio histórico ao comprovar a localização desse cemitério, que “modifica toda uma estrutura histórica e cultural da região do Campo da Pólvora, identificando o primeiro cemitério público do município de Salvador e provavelmente do estado da Bahia”.
De acordo com as pesquisas de Silvana Olivieri, o cemitério, criado no século 18, funcionou por aproximadamente 150 anos, e era administrado inicialmente pela Câmara Municipal e depois pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia. O local teria sido utilizado para sepultamento sobretudo de escravizados, mas também de pobres, indigentes, suicidas e encarcerados. O cemitério foi fechado em 1844, e sumiu na paisagem urbana de Salvador. “Esse achado tem o potencial de abalar as bases coloniais e racistas dessa cidade. Porque a gente sabe que essas práticas coloniais apagam memórias e vestígios de violências e assim se perpetuam. O cemitério trata desse direito à memória, direito à verdade e ao luto. Então eu acho que o impacto vai ser enorme porque se trata de um apagamento proposital”, destacou a pesquisadora Silvana Olivieri.
Crédito das fotos: Sérgio Figueiredo
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