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Abusos na infância podem deixar marcas genéticas por toda a vida

Cientistas notaram diferenças no material genético de vítimas. Há possibilidade das alterações serem transmitidas aos descendentes

03/10/2018 às 20h55 Atualizada em 03/10/2018 às 20h57
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Pessoas que sofrem abuso sexual, físico ou emocional durante a infância apresentam alterações genéticas ao longo da vida que podem ser transmitidas para suas futuras gerações. É o que revelou um novo estudo publicado na Translational Psychiatry realizado pela Universidade de British Columbia, no Canadá, e pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

De acordo com a pesquisa, os efeitos de abusos vão muito além do trauma psicológico e se estendem, inclusive, para o DNA do indivíduo. Foi a conclusão dos especialistas depois de avaliarem amostras de esperma de 34 homens adultos que sofreram diferentes tipos de abusos quando crianças. Foram encontradas diferenças consideráveis que permitiam distinguir quem havia sido vítima daqueles que não tinham.

Os especialistas atestaram que as pessoas que foram abusadas constantemente apresentam um índice maior do hormônio cortisol, mais conhecido como “hormônio do estresse” que é liberados em situações de risco. Normalmente após o perigo, seus níveis voltam ao normal. No caso da vítimas, porém, uma liberação excessiva provoca alterações genéticas fora do padrão.

Essas mudanças são chamadas de metilação do DNA, as quais foram encontradas no material genético das vítimas no estudo realizado pelos cientistas. Segundo Nicole Gladish, da Universidade British Columbia, essas alterações podem afetar genes ligados a função cerebral e ao sistema imunológico.

Um outro ponto que foi verificado foi a possibilidade das marcas genéticas da vítimas serem repassadas aos seus descendentes. Não está comprovado que isso realmente aconteça, porém, elas foram verificadas em estudos com roedores – o que poderia apontar para um processo semelhante em caso de humanos.

“O trauma obviamente afeta muito o comportamento de vítimas. Muitas vezes, os tornando deprimidos e com transtorno de estresse pós-traumático”, declarou Andrea Roberts, cientista de Harvard. Ela também completou afirmando que essas condições de saúde mental podem afetar a paternidade e as futuras crianças. “Já sabemos que há muitos mecanismos comportamentais que têm efeitos negativos para a próxima geração por causa do abuso sofrido”, disse.

Por fim, os estudiosos acreditam que essas “cicatrizes moleculares” podem ser usadas no futuro para comprovar se uma criança sofreu ou não abuso em casos de investigações policiais e judiciais. "É razoável que as correlações que encontramos entre a metilação e o abuso possam oferecer um porcentual de probabilidade de que o abuso possa, de fato, ter ocorrido", afirmou Michael Kobor, geneticista e professor da British Columbia University.

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