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Gravação mostra policiais assumindo boca de fumo e vendendo drogas no lugar dos traficantes no RJ

'Perdemos, perdemos', disse um traficante ao ser surpreendido por policiais. Ao todo, vinte mil escutas foram analisadas durante as investigações.

29/06/2017 às 23h34 Atualizada em 30/06/2017 às 07h36
Por: Correio Fonte: G1 | TV Globo
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Reprodução
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Uma das gravações feitas com autorização da Justiça para o inquérito da operação Calabar, que terminou com 66 PMs e 22 traficantes presos nesta quinta-feira (29), no Rio de Janeiro, chocou os investigadores. Nela, é possível identificar PMs tomando uma boca de fumo dos traficantes e assumindo a venda de drogas. Ao todo, vinte mil escutas foram analisadas durante as investigações.

A gravação feita em abril do ano passado, na favela Parada 40, em São Gonçalo, indica que os policiais militares foram cobrar a propina, que estava atrasada, mas, quando chegaram a um ponto de venda de drogas, assumiram o lugar dos traficantes. E, fardados, passaram a vender maconha e cocaína (veja abaixo a conversa entre policiais, criminosos e um comprador).

Traficante: "perdemos, perdemos".

Policial: "deita, deita, deita, deita no chão. Deita no chão p... Pegou o pó?"

Policial 2: "não".

Policial: "tá com ele, tá com ele, tá com ele. Vem, vem, vem, vem, Zequinha. Pode vim. Leva tudo, leva tudo."

Comprador: não, não.

Policial: "p... Leva tudo, leva tudo, vai voltar?"

Comprador: "dá duas vinte (reais) então."

Policial: "dois de vinte (reais), aí ó, pedrão. Vem que vem. Quanto você quer? Três. Três pó de cinco (reais) para o amigo aí. Vai lá, se adianta aí."

Comprador: "desculpa, aí, valeu?"

Policial: suave. "Pode mandar vir que a boca tá vendendo a todo vapor."

A investigação descobriu que o dinheiro era arrecadado toda semana por um intermediário, em pelo menos cinquenta das cem comunidades de São Gonçalo. O ministério público afirma que há uma estreita relação entre a propina paga aos policiais militares corruptos e o aumento dos crimes de roubo e latrocínio (roubo seguido de morte) na região.

 "Laranjas podres"

Foi usando a expressão "laranjas podres" que delegado Fábio Barucke, da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, se referiu aos PMs denunciados na maior operação contra a corrupção na Polícia Militar já realizada na história do Rio. Ao todo, 96 policiais militares tiveram mandado de prisão preventiva decretado, assim como 70 traficantes e outros criminosos apontados como integrantes de esquema de corrupção em São Gonçalo, Região Metropolitana.

A ação é realizada por agentes da Polícia Civil, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público (MP-RJ), e da Corregedoria da Polícia Militar. Dos 184 mandados de prisão preventiva, por volta das 18h os agentes já tinham cumprido 63 contra PMs (cinco deles já estavam presos) e 22 contra traficantes (15 presos anteriormente).

Segundo Barucke, armas apreendidas em comunidades de São Gonçalo eram vendidas em outras favelas por policiais corruptos, sem que acontecesse a apresentação dos materiais em delegacias. “Percebemos que essa organização criminosa não deixou de arrecadar os recursos do tráfico de drogas,” destacou o delegado. "Extraímos essas laranjas podres", acrescentou.

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