Há 15 anos, o Brasil conquistou o pentacampeonato mundial de futebol ao vencer (em final inédita) a Alemanha por 2 a 0, em Yokohama, no Japão.
Com o feito, o futebol brasileiro se igualou a Alemanha ao chegar à terceira final consecutiva e superou o trauma de 1998, quando perdeu na final para a anfitriã França por 3 a 0.
Ronaldo, protagonista da polêmica na final de 1998 sobre sua condição –passou mal antes do jogo–, deu a volta por cima. Recuperado de duas cirurgias no joelho, saiu da competição na Ásia como artilheiro, com oito gols em sete jogos, e um dos principais nomes da seleção, ao lado de Rivaldo.
O Brasil conquistou em 30 de junho de 2002 seu quinto título do principal torneio mundial de seleções, com 100% de aproveitamento (sete vitórias em sete jogos).
A estreia no torneio, disputado na Coreia do Sul e no Japão, contra a Turquia, em 3 de junho, foi difícil. O Brasil só venceu devido ao pênalti (mal) apontado pelo árbitro coreano Kim Young-joo sobre Luizão aos 40 minutos do segundo tempo –Rivaldo converteu–, que foi decisivo na vitóriado Brasil por 2 a 1.
Já o segundo jogo, em 8 de junho, foi um passeio: 4 a 0 sobre a China. No último duelo da fase de grupos, no dia 13 de junho, já classificado, o Brasil usou time misto e voltou a golear. A seleção, liderada por Ronaldo (dois gols), aplicou uma goleada por 5 a 2contra a Costa Rica, com direito a gol até do zagueiro Edmilson.
Oitavas, quartas e semifinal, respectivamente contra Bélgica, Inglaterra e Turquia, foram jogos tensos e todos decididos no segundo tempo.
Contra a Bélgica, em Kobe (Japão), no dia 17 de junho, Rivaldo e Ronaldo decidiram. A equipe europeia teve um gol anulado no primeiro tempo e reclamou muito com o técnico belga. Final do jogo: 2 a 0 para o Brasil.
Nas quartas, em 21 de junho, o Brasil protagonizou um jogo de tirar o sono, pela dificuldade e pelo fuso horário (a partida começou às 3h30 no horário de Brasília).
A Inglaterra abriu o placar após falha do zagueiro Lúcio falhar. O inglês Michael Owen aproveitou e, em seu único chute a gol no jogo, abriu o placar aos 24 minutos do primeiro tempo. Aos 48min, após jogada de Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo empatou a partida.
Antes de ser expulso, aos 12min do segundo tempo, Ronaldinho cobrou falta da intermediária e encobriu Seaman, decretando a virada brasileira e a passagem para a semifinal.
Na semifinal, o Brasil se viu frente a frente, novamente, com a Turquia, contra quem protagonizara duro embate na primeira fase –inclusive com a polêmica encenação de Rivaldo.
E o time do técnico Luiz Felipe Scolari mais uma vez sofreu para ganhar. O placar de 1 a 0, com gol de bico de Ronaldo, aos 4min do segundo tempo, levou o Brasil à terceira final seguida de Copa do Mundo.
Sobre o estilo do gol, o artilheiro deixou claro a reverência. “Foi de biquinho, bem ao estilo do Romário mesmo. Ele é o mestre em fazer gol desse tipo”, resumiu um Ronaldo esfuziante.
Duas imagens chamaram a atenção no duelo: o corte de cabelo de Ronaldo, apelidado de “Cascão”, pelos companheiros de seleção. E a perseguição ao atacante Denilson por quatro jogadores turcos no final do jogo.
A decisão proporcionou um confronto inédito. De um lado, o Brasil, então maior vencedor de Copas (quatro). Do outro, a Alemanha, que tinha três títulos e poderia se igualar à seleção brasileira.
E novamente o placar foi decidido no segundo tempo. Na primeira etapa, a Alemanha imprimiu ritmo forte e testou o sistema defensivo brasileiro, que sofreu apenas um gol nos mata-matas (da Inglaterra) e suportou bem as bolas paradas e as jogadas pelas laterais, com bela atuação do goleiro Marcos.
O Brasil não permitiu que o sistema de jogo coletivo alemão desmontasse a “Família Scolari” (como ficou conhecida a seleção na Copa) e voltou para o segundo tempo mais criativo, impondo-se com Ronaldinho, Rivaldo e Ronaldo no ataque, que fizeram 16 dos 18 gols do time na Copa.
Aos 23min do segundo tempo, Ronaldo roubou a bola na intermediária alemã e tocou para Rivaldo, que jogou a final com pé enfaixado. O meia-atacante chutou forte, com pé machucado, em sua única finalização, e o goleiro Oliver Kahn não segurou. O camisa 9 do Brasil seguiu o lance e, no rebote do goleiro, empurrou para as redes, fazendo o primeiro da seleção.
Menos de dez minutos depois, Kleberson, segundo atleta mais jovem do time, desceu em velocidade pelo lado direito e tocou para o meio da área. Rivaldo, sem olhar para trás, fez o corta-luz para Ronaldo, que dominou, puxou a bola de lado e chutou no canto, matando definitivamente o melhor jogador do campeonato, Oliver Kahn.
Acabava o trauma da derrota acachapante para a França quatro anos antes, os dramas de um atleta que sofreu com seguidas contusões e renascia o país do futebol.
Na festa, Cafu quebrou o protocolo. Capitão da seleção brasileira, ele mexeu no púlpito imobilizado onde estava a taça, balançou-o, conferindo se era seguro, e fez um gesto de que iria erguê-la ali mesmo, sobre o aparato da Fifa.
Os ex-chefões da Fifa e CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Joseph Blatter e Ricardo Teixeira, juntamente com Pelé, assistiram ao lateral subir no pedestal e, de sorriso aberto, levantar os braços.
Com a inscrição “100% Jardim Irene” na camisa, Cafu recebeu a taça, disse as palavras que rodaram o mundo –“Regina, eu te amo” (numa homenagem à mulher)–, beijou e ergueu-a acima da cabeça, como ensinou Carlos Alberto Torres, para delírio de uma nação inteira.
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