Linda, corpo escultural e inúmeras curtidas de seguidores nas redes sociais. O perfil é parecido com o de outras tantas celebridades da Internet, a não ser por um detalhe: era o de umas das criminosas mais procuradas pela Justiça de São Paulo. Advogada de formação, ex-repórter da RedeTV! e modelo, Luana Domingos de Almeida, 32 anos, é acusada de fazer parte do PCC, o Primeiro Comando da Capital, e tinha mandados de prisão por corrupção ativa e organização criminosa.
Luana Don, como ficou conhecida por sua carreira na televisão, foi presa na terça-feira 4, em Ilhabela, no litoral paulista. Ela era um dos alvos da Operação Ethos, deflagrada no final do ano passado pela Polícia Civil em conjunto com o Ministério Público do Estado de São Paulo para prender advogados suspeitos de trabalhar para o PCC. Luana conseguiu evitar a prisão em flagrante. Sumiu do mapa, mas não quis deixar a vida de luxo de lado. Manteve-se escondida nos últimos sete meses com uma prima em uma casa de veraneio de um tio, avaliada em R$ 2 milhões. No local, promovia festas regadas a vinho e fazia exercícios físicos para manter o corpo sarado. Tudo, no entanto, longe da exposição que tanto amava. Logo que a Polícia Civil divulgou sua foto com o status de “Procurada”, Luana apagou todos os vestígios de sua intensa atividade nas redes sociais.
Antes de ingressar no mundo do crime, Luana Don foi repórter do programa “Superpop”, da RedeTV!. Em uma entrevista, disse que a oportunidade de trabalhar na televisão surgiu ao acaso, como quase tudo em sua vida. Ela então trabalhava como advogada em uma empresa, mas estava infeliz. Convidada para participar de fotos para o calendário de um bar, conseguiu a vaga para um quadro dentro do programa que tem como apresentadora a ex-modelo Luciana Gimenez. Ficou na frente da telas por três anos, de 2012 a 2015. Era conhecida por fazer reportagens sobre celebridades – numa delas recebeu uma cantada do craque Neymar – e temas como prostituição, casas de swing e Santo Daime. Ela chegou a tomar a beberagem e passou mal diante das câmeras. Depois que saiu da TV, ainda continuou nos holofotes no Instagram, além de fazer publicidade para marcas de roupas e suplementos alimentares.
Na terça-feira 4, o rosto de Luana voltou a aparecer em todas as emissoras de televisão do Brasil. Sem o glamour da vida de celebridade, com o cabelo mal pintado e amarrado em um coque, ela foi encaminhada à delegacia usando roupas simples. Chorou bastante e disse aos policiais que era inocente. Mas não é o que a investigação diz. De acordo com o Ministério Público do Estado de São Paulo, a bela era uma espécie de “pombo-correio” do PCC, ou seja, se aproveitava da função de advogada para simular visitas aos presos da facção e repassar informações deles para membros que ainda estão em liberdade, incluindo ordens para grandiosos assaltos e até atentados contra policiais.
Doutora Carla
No mundo do crime, Luana era conhecida pelo codinome doutora Carla. Integrante de uma célula chamada “sintonia dos gravatas”, era identificada pelos líderes da facção como R-35 (a letra R está relacionada ao setor jurídico do PCC). De acordo com as investigações, a advogada usava o próprio corpo para passar mensagens durante as visitas, escrevendo informações nos seios. Em depoimento à polícia, ela negou. Disse que nunca foi a uma penitenciária e que apenas esteve no fórum verificando processos de clientes do escritório onde ficou um mês e meio trabalhando. Ré na ação sobre a organização criminosa, agora Luana espera o julgamento na Penitenciária Feminina de Tupi Paulista.
Luana não foi o único nome conhecido a aparecer na Operação Ethos, que teve o trabalho iniciado após a polícia encontrar no teto de uma penitenciária uma carta de um advogado para Marcola, o líder do PCC. No ano passado, também foi preso Luiz Carlos dos Santos, então vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Ele é acusado de fazer parte da “sintonia dos gravatas” (o grupo de advogados do PCC) e já foi condenado a uma pena de pouco mais de 16 anos por receber uma mesada da facção para fazer denúncias falsas contra policiais que desafiavam os criminosos.
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