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Da obesidade mórbida aos octógonos, a trajetória de Carlos 'Boi' no MMA

Carlos Boi é o novo contratado da maior organização de MMA do mundo

17/08/2019 às 07h37 Atualizada em 17/08/2019 às 07h44
Por: Correio Fonte: A TARDE
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Da obesidade mórbida aos octógonos, a trajetória de Carlos 'Boi' no MMA

Obesidade na infância, bullying no colégio, volta por cima no mundo luta, punição no antidoping e assinatura com UFC. A história do garoto Carlos Felipe, conhecido como 'Boi', de 23 anos, teria tudo para se tornar um belo roteiro de filme. No entanto, com a caneta nas mãos, as próximas páginas dessa história ainda estão sendo escritas pelo baiano, natural de Feira de Santana.

Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, o novo contratado da maior organização de MMA do mundo, contou com detalhes o início de sua trajetória até a introdução no seleto grupo dos melhores lutadores da atualidade.

"Quando eu era menor, tive obesidade mórbida. Cheguei a pesar 160 quilos com 15 anos, então eu era muito vítima de Bullying. No entanto, sempre fui muito brigão. Por isso, minha professora pediu que eu fosse em um psicóloga e ela sugeriu que eu fosse para o boxe. Como eu tinha esse histórico de arrumar confusão, minha mãe ficou com receio de me colocar. Mas acabou sendo o contrário, eu fui ficando mais tranquilo e tomei gosto pelo esporte. Se antes era uma questão de saúde e comportamental, acabou se tornando um estilo de vida", contou.

Questionado sobre o motivo de chegar ao referido peso de maneira tão precoce, Boi brincou dizendo que, na época, foi por pura displicência consigo mesmo. "Meu problema sempre foi a comida. Até hoje eu sou muito guloso, então tenho esse problema. Já fiz exame de tireoide, mas sempre foi descaração mesmo", completou.

Uma história curiosa do período em que sofria zoações na época de colégio, ocorreu quando o jovem já havia ingressado no boxe. Na época, com o temperamento bastante explosivo- como ele mesmo afirma - Carlos chegou ao ponto de lutar contra três meninos sozinhos ao mesmo tempo.

"Achavam que podia me zoar por ser gordo, me chamar de otário, essas coisas. Mas comigo sempre foi diferente, e eu era novo nessa escola. Por vim de colégio particular, eles ficavam me perturbando e eu sempre evitando. Até que chegou um momento que não aguentei e vi que teria que me impor. Quando fui bater de frente, vieram mais dois e acabei brigando com os três", narrou.

Além dos ringues, Boi chegou a vestir o quimono novamente. Dessa vez, para praticar o Jiu-Jitsu, quando chegou a conquistar alguns torneios locais. "Ganhei alguns campeonatos na federação de Humberto, meu professor de Feira de Santana. Na federação de vovô, estou competindo também, porque não gosto de ficar parado. Então, se tem uma competição, estou participando, só para sentir aquela adrenalina mesmo", revelou.

No entanto, antes mesmo de subir aos tatames, ele chegou a praticar a arte marcial de maneira bastante amadora, em casa mesmo. "Feira ainda não tinha academia de MMA na época. Eu tinha um amigo que gostava muito também, então a gente ficava se embolando no quintal praticando Jiu-Jitsu, entre aspas, porque ninguém sabia nada", confessou o lutador.

Carlos Felipe ainda falou sobre o apelido que será entoado pelo locutor Bruce Buffer quando ele subir no octógono. "Quem colocou foi meu segundo professor de boxe. Quando cheguei, não tinha técnica nenhuma, só tamanho e força. Por isso, saia atropelando a galera como um maluco. Meu mestre Xuxa virou para mim e falou que parecia um boi desgovernado, e ficou o apelido 'Boi'".

Para subir no ringue mais famoso do mundo, Carlos Boi precisara travar mais uma luta com a balança para chegar em sua estreia com o peso ideal. Mas dessa vez, a tarefa será bem menos árdua do que da primeira vez, quando ainda era criança.

"Eu dei uma relaxada na dieta esses tempos e acabei indo para 129 kg, mas costumo me apresentar nas lutas em torno de 115 kg. Quando fiz minha estreia na luta profissional, cheguei a bater 98 kg, mas fiz desidratação e foi um processo bastante nocivo para o meu corpo. Sentia muita fraqueza e estresse, minha concentração também ficava prejudicada", avaliou Carlos.

Problema com doping

Por falar em estreia no UFC, a primeira luta de Boi era para ter ocorrido a muito tempo atrás. Infelizmente, com menos de um mês depois de ter assinado com a organização, o garoto testou positivo no exame antidoping realizado pela Agência Antidopagem dos EUA (USADA) para a substância estanozolol. Com isso, Carlos pegou um gancho de dois anos, a punição máxima que pode ser aplicada a um atleta.

"Eu lutei em um evento de qualifying aqui em Salvador, no dia 17 de maio. Acabei tomando uma medicação para emagrecer em janeiro. Na época, eu nem imaginava que seria chamado para o UFC. Fiz na minha luta, em maio, duas semanas depois eu fui contratado. Em julho, fiz o exame antidoping e acabou pegando o metabólico, dizendo que tinha ficado resquícios do produto que usei em janeiro para emagrecer", revelou.

Passada a suspensão, Carlos Felipe ainda falou sobre ter assinado, novamente, com o evento. Para ele, o processo seria um pouco mais demorado, em decorrência do tempo que ficou parado por conta da punição.

"Sempre estivemos em contato com o Match Maker e com a galera do UFC. Foi uma surpresa, porque a especulação era que, depois que acabasse minha suspensão, eu ainda fizesse ainda umas duas lutas para tirar a ferrugem. Mas do nada ele postou um vídeo de uma luta minha e me ligou perguntando como eu estava, dizendo que queria me trazer de volta", contou.

Primeira luta e futuro na organização

Com oitos lutas na carreira, o baiano chega ao Ultimate sem ter perdido nenhuma luta sequer em sua carreira. Além disso, desses confrontos, cinco foram encerrados ainda no primeiro round por nocaute, e um por interrupção do árbitro. Se o apetite de Boi já era devastador, agora, após o tempo parado, ele afirma que o anseio de vitória está ainda maior e aproveitou para mandar um recado para seu futuro oponente, que ainda não foi confirmado.

"Vai ser a pior coisa que ele vai sofrer na vida dele. Se há dois anos atrás, quando eu estava mais ativo, já tinha vontade de bater alguém. Imagina agora, que estou com esse dois anos de atraso", garantiu.

Para o futuro, o feirense projetou sobre o direcionamento que ele espera dar em sua carreira daqui para a frente. "Sem querer estar me exaltando, mas eu quero me ver daqui há uns dois ou três anos como o novo campeão mundial. Tem gente que confunde auto-confiança com soberba. Eu falo tranquilamente que me vejo com o cinturão daqui há um tempo", concluiu.

Brazil MMA

Carlos Américo (esq) e Martinho Jambeiro (dir), diretores da Brazil MMA
Carlos Américo (esq) e Martinho Jambeiro (dir), diretores da Brazil MMA

Por fim, assim como a baiana Virna Jandiroba, Carlos Boi é outro atleta a ser convidado pela Brazil MMA para ser padrinho do evento 'Brazil MMA Fight', que ocorre no próximo sábado, 17 de agosto, na Associação Atlética da Bahia (AAB).

"Fico honrado. Essa galera está sempre ajudando os atletas e dando incentivo. Isso estava faltando no cenário aqui do estado. O MMA na Bahia, para mim, é um dos mais promissores do Brasil. Mas se você ver há alguns anos atrás, não tinha cobertura quase nenhuma. Então, eles estão fazendo isso, um evento que irá fortalecer todo mundo", celebrou.

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