A Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, em inglês) informou nessa terça-feira (24) que testa o uso de plasma sanguíneo para tratar pacientes com o novo coronavírus e em estado grave. Se funcionar, seria mais uma ferramenta para combater a COVID-19.
A FDA disse, em um comunicado à imprensa, que está “facilitando o acesso” desse tratamento a pacientes com infecções potencialmente fatais. O plasma sanguíneo utilizado como base é de uma pessoa que se recuperou após testar positivo para a doença.
Este é um tratamento que o estado de Nova York está buscando com base em testes clínicos, afirmou o governador Andrew Cuomo na terça-feira.
O processo, conhecido como terapia derivada de plasma ou “plasma convalescente”, consiste em avaliar o plasma de pessoas que se recuperaram da doença para detectar anticorpos contra o vírus, e depois injetar esse material, ou um derivado dele, no paciente infectado.
A medida é um “grande passo”, disse o médico Arturo Casadevall, chefe de microbiologia molecular e imunologia da Escola de Saúde Pública Bloomberg, da Universidade de Medicina Johns Hopkins, que defende o tratamento com plasma.
“Tem uma alta probabilidade de funcionar, mas não saberemos até seja feito” e pacientes tenham sido tratados, disse ele. “Sabemos que, segundo a história, há boas possibilidades.”
Pesquisas e testes
O tratamento começou a ser testado quando os Estados Unidos tiveram o dia com mais mortes pela doença desde o início do surto. Mais de 150 pessoas morreram por COVID-19 somente na terça-feira, de acordo com um balanço feito pela CNN. Ao menos 700 morreram no país e 53 mil estão infectadas.
Cuomo disse que seu estado também busca analisar o sangue de pessoas em busca de anticorpos e imunidade ao novo coronavírus. “Isso seria muito importante para nós, porque os funcionários da área da saúde poderiam voltar a trabalhar”, afirmou.
O Departamento de Saúde do Estado de Nova York também está implementando testes clínicos para o medicamento contra a malária, chamado hidroxicloroquina, e o antibiótico azitromicina. Os pacientes hospitalizados com sintomas moderados ou graves do novo coronavírus poderão receber o tratamento.
“Estes são os pacientes nos quais acreditamos que pode haver maior impacto, por isso queremos focar neles”, segundo um funcionário de saúde de Nova York.
Um segundo teste realizado pela Universidade de Nova York tenta determinar se a hidroxicloroquina pode ser usada como medida preventiva para tratar pessoas que não têm o vírus, mas estejam em contato com quem tem, de acordo com um e-mail enviado à CNN por um membro do Conselho de Revisão Institucional do Departamento de Saúde do estado.
Logística é o maior problema
O funcionário de saúde disse que, para participar do tratamento com plasma, serão recrutados pacientes da cidade de New Rochelle, que registrou os primeiros casos no estado norte-americano e agora tem uma grande quantidade de pessoas recuperadas.
O tratamento com plasma vai demorar para começar. Os médicos deverão identificar os pacientes que tiveram resultado negativo para a doença, extrair seu plasma e analisá-lo em busca de anticorpos para a COVID-19 antes de ele ser enviado a pacientes infectados. Se houver anticorpos suficientes no plasma, ele pode matar o vírus, segundo alguns médicos.
A FDA está limitando o tratamento com plasma aos pacientes em situação mais crítica. A autoridade de saúde de Nova York reconheceu que encontrar um candidato adequado e colher o plasma pode levar dias, mas disse que está tentando reduzir esse tempo.
“O maior problema é a logística. É preciso encontrar as pessoas, avaliá-las, identificar os doadores adequados, colher o plasma e levá-lo às pessoas que precisem. Isso necessita de logística, mas tudo é viável, não é ciência espacial”, destacou Casadevall.
Ele disse que ficou impressionado com a quantidade de pessoas que querem doar o plasma e de médicos de todo o mundo que querem entender o possível tratamento. Casadevall criou um site e espera publicar mais informações sobre o tratamento nos próximos dias.
Tratamentos com plasma são feitos desde 1900
Casadevall afirmou que os médicos poderiam saber dentro de um mês se o tratamento com plasma está funcionando, assim que encontrarem voluntários suficientes que doem o plasma.
Os tratamentos com plasma sanguíneo são utilizados desde a década de 1900 para tratar doenças infecciosas, como gripe e, mais recentemente, ebola.
A China usou esse tratamento em pessoas que testaram positivo para a COVID-19 e disse que está funcionando, mesmo que os médicos norte-americanos ainda não tenham analisado dados subjacentes.
Casadevall explicou que o tratamento é muito seguro, mas ressaltou que sempre há riscos, inclusive de alguém transmitir um patógeno que não foi identificado anteriormente. Ele afirmou ainda que o tratamento pode não funcionar se os pacientes estiverem em estado crítico.
Em 2009, segundo ele, houve um teste para tratar a gripe comum usando o plasma, mas alguns dos pacientes já estavam muito doentes para os anticorpos funcionarem. O estado grave estaria menos ligado ao vírus e mais à inflamação.
Em Nova York, Casadevall disse que o tratamento será administrado em pessoas que já estejam muito doentes, mas espera que, em breve, possa indicá-los a pacientes diagnosticados com antecedência.
Mín. 21° Máx. 37°