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Sergio Moro pede demissão e acusa Bolsonaro de interferência na PF

"Pra mim, esse ultimo ato [a exoneração de Valeixo] é uma sinalização que o presidente me quer realmente fora do cargo. Essa precipitação na exoneração, não vejo muita justificativa", disse Moro.

24/04/2020 às 12h40
Por: Correio
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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pediu demissão do cargo nesta sexta-feira (24) horas depois de o presidente Jair Bolsonaro publicar no Diário Oficial da União (DOU) a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Mauricio Valeixo.

"Pra mim, esse ultimo ato [a exoneração de Valeixo] é uma sinalização que o presidente me quer realmente fora do cargo. Essa precipitação na exoneração, não vejo muita justificativa", disse Moro.

"A exoneração, fiquei sabendo pelo DOU. Não assinei esse decreto. Em nenhum momento isso me foi trazido, em nenhum momento o diretor da PF apresentou um pedido formal de exoneração", afirmou. "Eu fui surpreendido, achei que isso foi ofensivo." O Diário Oficial trouxe a informação que a exoneração havia sido feito "a pedido" do ex-diretor-geral da PF, o que, de acordo com Moro, não é verdade.

Moro afirmou que vê a troca no comando da PF com muita preocupação por considerar tratar-se de uma interferência política do presidente. Ele afirmou também que Bolsonaro, em mais de uma ocasião, expressou que queria um diretor na instituição que fosse da confiança dele.

"[Bolsonaro quer uma pessoa para a qual] pudesse ligar, colher informações, que pudesse colher relatórios de inteligência, seja o diretor-geral, seja o superintendente, e realmente não é o papel da PF prestar esse tipo de informações", opinou Moro.

"Ele [Bolsonaro] assumiu um compromisso comigo que seria escolha técnica [para a direção da PF], eu faria essa escolha. [O nome] poderia ser alterado desde que tivesse uma causa consistente", explicou o ministro. "Não tendo [justificativa] e percebendo essa interferência política é algo que não posso concordar", completou. "Eu disse que seria uma interferência política. Ele disse que era mesmo."

O ex-magistrado afirmou que "começará a empacotar suas coisas" e providenciará sua carta de demissão. "Infelizmente não tenho como persistir com o compromisso que assumi sem que eu tenha condições de trabalho, de preservar a autonomia da PF para realizar seu trabalho, ou sendo forçado a sinalizar uma concordância com uma interferência politica, cujos resultados são imprevisíveis."

O ministro disse também que pesou em sua decisão o fato de ter que preservar sua biografia, "de respeito à lei, ao Estado de Direito, à impessoalidade no trato das coisas".

Moro afirmou que pretende descansar nos próximos meses depois de anos intensos de trabalho na Lava Jato e à frente do Ministério, mas que, depois, procurará emprego. "Não enriqueci no serviço público, nem como magistrado nem como juiz."

E finalizou afirmando que, independente de onde atue, estará sempre à disposição do país. "Enfim, sempre respeitando o mandamento do Ministério da Justiça e Segurana Pública nessa gestão, que é fazer a coisa certa, sempre."

Trata-se da segunda mudança no gabinete de Bolsonaro em menos de um mês. A primeira foi a demissão do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em meio à pandemia de coronavírus.

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