Dez anos se completam nesta quinta-feira (20/7) desde a morte de Antonio Carlos Magalhães (ACM), um dos políticos mais importante do Brasil. “Cabeça branca”, como o político também era conhecido, governou o estado em três mandatos, dois concedidos durante a Ditadura Militar.
Seus métodos polêmicos de governar marcaram sua trajetória política, fundamentada no controle dos meios de comunicação que trabalhavam ao seu favor construindo uma imagem pública positiva, e na prática institucional do clientelismo — sistema político caracterizado pelas trocas de favores.
Nos autos da sua morte, Antonio Carlos Magalhães sofria com diabetes, problemas renais e cardíacos. Após um mês de internação, em uma manhã de inverno, o político morreu por falência múltipla de órgãos e insuficiência cardíaca, aos 79 anos.
CARLISMO E SEUS DESCOBRAMENTOS
Após anos de apogeu entre 1970 e 1990, o Carlismo, como ficou conhecido a atuação do grupo político liderado por ACM, perdeu força no começo do século XXI. Os tempos mudaram e a postura de coronel adotada passou a ser questionada não só pelos seus opositores. O primeiro grande baque foi a renúncia do cargo de Senador, em 2001. Um ano depois, mais uma vez a faceta autoritária do político é exposta durante o episódio dos grampos aos seus adversários e ex-amante.
Os processos de mudança política ocorrido no Nordeste logo após as eleições de Lula reorganizaram a configuração do poder na região e, em 2006, veio a queda mais cruel de ACM. A derrota para o governo do estado contra o petista Jaques Wagner, diante de seu candidato Paulo Souto. Derrota essa que traduziu plenamente uma das frases mais famosas do político: “Quem decide meu destino é a Bahia”.
AINDA VIVE
Mesmo com sua morte e a derrota nas urnas, quase no fim da sua vida, há quem acredite que o modo carlismo de se fazer política ainda existe na Bahia. Para o cientista político Paulo Fábio Dantas, o carlismo como grupo político não existe mais. No entanto, ressalta, métodos semelhantes aos que foram feitos por ACM ainda são praticados.
“Persiste entre nós uma atitude política [disseminada tanto no campo do governo como no da oposição] que podemos identificar com o que era a política carlista. Ela considera que o líder eleito pelo povo tem direito a governar com pouco controle da oposição, de partidos ou outras instituições, buscando a legitimidade pela aclamação e não pelo pluralismo”, ressalta o professor.
Ainda que a oposição tenha conseguido alcançar o poder e pulverizado o eixo de lideranças políticas no estado, o cientista político e doutor em Educação Gustavo Almeida, acredita que o autoritarismo – uma das principais marcas de ACM -, ainda prevalece em figuras que se opuseram ao político no passado e que persistem no poder devido ao baixo grau de politização da população.
“Enquanto vivo o poder político entre nós foi muito concentrado em suas mãos. Hoje há outros atores na cena política. Mesmo assim, há que se considerar que a tradição aqui no Nordeste ainda faz prevalecer a figura do ‘salvador da pátria’ que, como tal, traz embutida em si a característica do autoritarismo”.
ACM NETO E A CONTINUAÇÃO DO CARLISMO
A vitória de ACM Neto para o cargo de prefeito de Salvador reacendeu a discussão sobre uma continuação do projeto de política autoritária e populista feita pelo seu avô na Bahia. Embora muitos acreditem que Neto seguirá os passos do seu espelho na política, o professor Paulo Fábio pondera que a tradição carlista, apesar da sua força no passado, não se aplica a realidade do eleitorado na atualidade.
“O prefeito ACM Neto aciona, aqui e ali, o lado positivo que pode haver na memória controversa do seu avô. Isso é um capital político que não lhe garante, por si só o sucesso eleitoral, mas é muito maior do que o da tradição carlista, que tem lá sua relevância mas é algo cada vez mais distante das faixas mais jovens do eleitorado. Trocar o que hoje já possui e o horizonte que tem à sua frente por um simples retrovisor seria uma estupidez política”, afirma.
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