Um grupo de 100 estudantes brasileiros ingressantes ou já cursando Ensino Superior na Argentina enviaram, na última quinta-feira (11), uma carta ao chefe do Gabinete de Ministros do governo argentino, Santiago Cafiero, e à diretora do Departamento de Migrações da Argentina, Florencia Carigano, pedindo para que as autoridades analisem a possibilidade de permitir a entrada deles no país.
O governo argentino reabriu as fronteiras em 2 de novembro do ano passado e decidiu fechar novamente, de forma inesperada, em 24 de dezembro, exatamente no período de férias dos universitários, deixando muitos estudantes que vieram visitar a família no Brasil sem poderem voltar para o país vizinho.
O decreto, que foi estendido até 9 de abril na última sexta-feira (12), determina que apenas cidadãos, residentes e trabalhadores essenciais estão permitidos de entrar em território argentino. A decisão afetou os estudantes ingressantes deste ano e também os que se mudaram para a Argentina em 2020, mas não conseguiram obter um atestado de residência, uma vez que a tramitação de documentos ficou praticamente paralisada em decorrência da pandemia da covid-19.
"Aqueles que estão ingressando esse ano, logicamente, ainda não têm atestado de residência. Eu, por outro lado, assim como vários outros alunos, vivi todo o ano de 2020 na Argentina, e ainda assim, não consegui a minha precária [atestado de residência provisória], tampouco meu DNI [documento de identificação argentino]", afirma a fluminense Marcelly Cardoso, 22 anos, uma das autoras da carta e estudante de Medicina na UNLP (Universidade Nacional de La Plata).
"Na prática, estamos sendo tratados como turistas, mas não é isso que somos. Somos estudantes, temos um vínculo com o país e pagamos nossos impostos assim como qualquer outro cidadão ou residente", completa a brasileira.
Segundo Marcelly, a situação implica em diversos danos econômicos e psicológicos para os estudantes. Aqueles que estão ingressando este ano se viram obrigados a encerrar seus contratos de aluguel, enquanto os que já moram no país estão tendo que arcar com os gastos da moradia.
Além disso, apesar de a maioria das universidades argentinas estarem ministrando aulas online, alguns cursos, como Medicina, estão realizando atividades extracurriculares presenciais obrigatórias.
A estudante brasileira destaca que aqueles que os novos alunos terão o processo de adaptação prejudicado e que pode impactar até mesmo no desempenho acadêmico. Ela explica que muitas avaliações são realizadas oralmente e o primeiro ano é importante para ganhar fluência no espanhol.
Muitas universidades também estão exigindo que os alunos estrangeiros entreguem seus atestados de residência até agosto deste ano, mas, para solicitar este documento, é preciso que a pessoa esteja no país.
Na carta enviada ao governo argentino, os estudantes brasileiros pedem que a situação deles seja levada em consideração para não prejudicar o andamento de seus estudos.
"Solicitamos, em nome de todos os colegas na mesma situação, que, na próxima decisão governamental sobre as fronteiras, seja avaliada a possibilidade de entrada de estudantes no país, bem como para trabalhadores ou para aqueles que eles visitar parentes argentinos. Obviamente, esta autorização deve ser acompanhada da apresentação de documentos, bem como do teste negativo para covid-19 e da determinação de quarentena pelo tempo que o governo considerar necessário", escreveram os estudantes.
"Compreendemos perfeitamente as medidas tomadas pelo governo, mas pedimos que nossa sugestão seja avaliada pelos órgãos competentes a fim de minimizar os danos econômicos e psicológicos a que estamos sujeitos devido à incerteza gerada desde o fechamento das fronteiras no final de 2020", completaram.
Em resposta aos estudantes, a diretora do Departamento de Migrações da Argentina, Florencia Carigano, fez uma publicação no Twitter no último sábado (13) na qual disse que "desde que a universidade solicite o ingresso dos alunos e diga que vão retomar as aulas presenciais, eles podem autorizar."
Até o momento, os alunos conseguiram fazer contato com as agrupações da UNLP, com o CECiM (Centro de Estudiantes de Ciencias Medicas), da UBA (Universidade de Buenos Aires) e com o ALDE (Agrupación de Lucha por los Derechos de los Estudiantes), da UNR (Universidade Nacional de Rosário).
As universidades, por sua vez, afirmaram ao brasileiros que prints de publicações em redes sociais não são suficientes e pediram uma oficialização da proposta do governo, isto é, um e-mail ou um documento. Até às 15h desta terça-feira (16), os estudantes ainda aguardavam por esta formalidade para dar prosseguimento ao pedido.
*Estagiária do R7 sob supervisão de Pablo Marques
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