Ana Carla da Silva Santos, 35 anos, trabalha como auxiliar de limpeza no Hospital das Clínicas durante a noite e ao longo do dia divide seu tempo entre cuidar dos quatro filhos e da casa, no Jardim Peri Alto, na zona norte de São Paulo. Em um ano de ensino remoto, essa mãe que está cursando o supletivo, faz um balanço triste da educação dela e dos filhos: "não adianta passar de ano sem saber nada."
Na casa de Ana Carla, há apenas um celular antigo, "com a bateria ruim, mas dá para o mais velho, de 16 anos, que está no ensino médio, acessar o Whatsapp e pegar as atividades da escola", explica. "Ele tem a prioridade, mas reveza com a irmã de 11 anos, os mais novos, de 9 anos e 3 anos estudam em escola municipal e as atividades são no papel."
Por ter um aparelho antigo, a família não consegue baixar o aplicativo do Centro de Mídias. "Eu comecei a trabalhar no hospital na parte da manhã, mas vi que se não ficasse no pé, ninguém iria estudar nada aqui em casa, não adianta falar para assistir as aulas na televisão, se eles não prestam atenção na escola, imagine em casa?"
Por esse motivo, Ana Carla passou a trabalhar durante a noite. "Deixo tudo pronto antes de sair de casa, até a janta eu dou, e volto pela manhã, quando dá descanso, quando não dá, durmo uma hora no horário de intervalo para o jantar, assim vamos levando."
"Não é fácil, como eu estou fazendo o supletivo, tenho muita dificuldade em ajudar os mais novos, até avisei a professora que se tiver algo errado é porque eu me perco um pouco", diz. "Não adianta o governo dar o chip se as pessoas não não têm onde usar, o problema é outro, algumas famílias daqui nem um celular têm, mães que saem para trabalhar e os mais velhos cuidam dos mais novos, ninguém acompanha nada."
Alessandra D'Avanzo, coordenadora do Educa ViVA da Associação PiPA, projeto que auxilia as crianças em situação de alta vulnerabilidade social e que ficaram ou estão sem conteúdo escolar durante a pandemia, avalia que a dificuldade de acesso às aulas é grande. "Algumas famílias não conseguem se conectar, outras até tem celular, mas os equipamentos são antigos e não conseguem baixar os aplicativos."
Mesmo com a transmissão das aulas por canais de TV, a participação das crianças e adolescentes é pequena. "Para estudar em casa é preciso ter um espaço adequado, alguém que oriente — muitas ficam sozinhas em casa porque as mães trabalham e outras são acompanhadas por pessoas analfabetas, que não conseguem ajudar nas tarefas — e se a aula for remota precisa de um aparelho, quando falamos de famílias mais vulneráveis, não temos nada disso."
O resultado é a falta de rotina escolar e o impacto na aprendizagem. "Muitas famílias não dão o valor devido à educação e mesmo aquelas que estão fazendo as atividades remotas não estão conseguindo acompanhar, o nível de aprendizagem é muito baixo."
Funcionamento das escolas na pandemia
Escolas da rede estadual seguem abertas para alimentação (merenda) e distribuição de materiais na fase emergencial do Plano SP com a antecipação do recesso escolar, que começou na última segunda-feira (15) e vai até o dia 28 de março.
No período do recesso, os alunos não terão atividades obrigatórias e deverão permanecer em casa. O Centro de Mídias da Educação de SP vai reprisar as aulas, e os alunos podem acessar de forma opcional como reforço escolar. As aulas também podem ser assistidas pelos canais da TV Educação e TV Univesp, ambas da TV Cultura, além do aplicativo do CMSP, com dados patrocinados.
As escolas ficam abertas para oferecer merenda escolar aos alunos que mais precisam. Também estarão disponíveis para a distribuição de material didático impresso e dos chips de internet aos alunos que fizeram adesão ao programa. Todos os atendimentos serão feitos com horário marcado. As escolas das redes municipal e particular seguem com ensino remoto na capital.
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