Nesta quinta-feira (3), se vivo estivesse Estevam Pereira de Moura completaria 110 anos. Mais conhecido como Estevam Moura, musicista, compositor de marchas, dobrados e músicas para filarmônicas, nasceu em Santo Estevão, no dia 03 de agosto de 1907, sendo seus pais João Pedreira Moura e Minervina Carvalho Moura.
Seu pai faleceu quando Estevam tinha três anos de idade, deixando sua família em má condição financeira. Sua mãe, mulher forte e decidida, criou seus filhos com o ofício de costureira, dando exemplo de rara dignidade.
Estevam demonstrou, desde criança, forte inclinação para música, tocando flautas feitas com galhos de mamoeiro nas festas de Santo Estevão. Utilizava também um instrumento indígena, feito de cerâmica e chamado “ocarina” por ele mesmo fabricado, do qual extraia belíssimo som.
INFÂNCIA | Aos sete anos ingressou em uma escola pública. Sua professora, notando sua habilidade e aproveitando a oportunidade em que Santo Estevão organizava sua primeira filarmônica, o encaminhou para os responsáveis pela banda musical. Ali, na Filarmônica 26 de Dezembro, Estevam foi aluno do Prof. Manoel Luis de França. Bem cedo aluno e professor entraram em discordância a respeito da colocação de uma nota musical em um dobrado. A disputa chegou ao conhecimento do público e se espalhou, didivindo a cidade. A Lira Cachoeirana (de Cachoeira), escolhida para árbitro da contenda, decidiu que Estevão estava com a razão. O maestro, envergonhado, abandonou a cidade passando a regência da Filarmônica 26 de Dezembro para o professor Sobral. Este, reconhecendo o valor de Estevam, decidiu entregar a batuta ao jovem aluno. Estevam, entusiasmado, assumiu o cargo e compôs seu primeiro dobrado.
Em 1925, com a decadência econômica da Filarmônica 26 de Dezembro, Estevam Moura se mudou para Bonfim de Feira a fim de reger a Filarmônica Minerva. Em Bonfim de Feira, então distrito de Feira de Santana, permaneceu sete anos. Compôs diversos dobrados e conheceu a jovem Regina Bastos de Carvalho com a qual manteve tumultuado romance. Enfrentado a oposição da família de Regina, fugiram para Santo Estevão e ali se casaram no ano de 1931.
COMPOSIÇÕES | Em seguida o casal foi residir na cidade de Afonso Pena (hoje Conceição de Almeida), onde Estevam ocupou o cargo de regente da Filarmônica local. No ano seguinte, mudaram-se para Feira de Santana, onde nasceu o segundo filho, Ernani, apelidado de “Tusca”. Para ele Estevam compôs um de seus mais belos dobrados. Compôs também um dobrado em honra ao Deputado Arnold Silva, prefeito de Feira de Santana. Outras composições da mesma época são a marcha “Constelação”, os dobrados “Magnata”, “João Almeida”, “Vida e Morte”, o Fox “Reveilion”, o “Hino do Congresso Eucarísitico” e muitas “Ave Maria”.
Sua grande aspiração era fundar uma escola de música em Feira de Santana, o que se tornou quase realidade quando, ao lado da professora Georgina Erismann e outros, realizou uma tentativa infelizmente frustrada.
Com o intuito de incentivar os feirenses pelo gosto da música, criou o Coral São Miguel com quarenta vozes masculinas.
Durante muitos anos foi professor de música no Ginásio Santanópolis.
RÁDIO NACIONAL | Recebeu muitos convites para ser músico no Rio de Janeiro, cidade que visitou na década de 40 como participante de uma temporada do Corpo de Bombeiros de Salvador. Ainda na década de 40, Estevam Moura, regendo a Filarmônica 25 de Março, de Feira de Santana, se apresentou na Rádio Nacional e provavelmente na Rádio Ministério da Educação.
Muito educado, gozava a fama de ser verdadeiro “gentleman”. Mantinha intensa vida social e andava sempre bem vestido. Nas Micaretas de Feira de Santana e em outras festas populares da cidade, regia a Filarmônica 25 de Março.
Vizinho, e grande amigo, de Georgina Erismann, com ela aprendeu piano, aprofundou seus conhecimentos musicais, e compôs algumas produções.
Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, enfrentando a falta de palhetas importadas para instrumentos de sopro, passou a fabricá-las, atendendo pedidos de várias cidades do Brasil.
MORTE | Morreu em Feira de Santana, no dia 8 de maio de 1951.
Suas músicas são até hoje executadas por várias filarmônicas de Cachoeira, Maragogipe, Santo Amaro e outras cidades baianas. Em 1978, por ocasião de um concurso nacional de filarmônicas promovido pela Rede Globo de Televisão, transmitido para todo o Brasil, com a participação de filarmônicas de várias regiões do Brasil, esteve presente a Sociedade Filarmônica 25 de Março de Feira de Santana, interpretando composições de Estevam Moura. Obteve o segundo lugar na classificação final. Do júri participaram renomados maestros, como Edino Krieger, Marios Nobre, Isaac Karabithevsky e Júlio Medaglia. O maestro Marios Nobre fez emocionante pronunciamento, lamentou a morte precoce de Estevam Moura e a falta de reconhecimento do seu trabalho.
Tanto a Filarmônica quanto a Fanfarra de Santo Estevão tem o nome do famoso maestro santoestevense.