Até o dono do botequim da esquina sabe que, mais do que medidas restritivas ora aleatórias, ora absurdas e que ignoram aglomerações diárias no transporte público, serão as vacinas que irão conter a pandemia no Brasil. Só assim o país finalmente vai poder pisar no acelerador da retomada econômica. Vacinas, vacinas, vacinas. Apesar do clamor generalizado, o país ainda não conseguiu engatar um programa amplo de vacinação que dê alívio e permita que a população circule livremente em busca do sustento cada vez mais difícil.
Apesar do compromisso do Ministério da Saúde de vacinar ao menos um milhão de pessoas por dia, marca que, diga-se, chegou até a ser atingida, o que se assiste é uma nova desaceleração na aplicação dos imunizantes. Dados do site vacinabrasil.org apontam que na segunda-feira 12 foram aplicadas 728.310, e nos dias anteriores os números ficaram ainda mais baixos, repetindo situações de faltas de vacinas em postos de saúde, para a decepção de idosos que aguardavam a imunização. O número de aplicações chega a ser irrisório, lembrando que nos Estados Unidos a vacinação diária supera fácil as 2 milhões de doses e atualmente até pré-adolescentes já começam a ser vacinados.
Aqui a sensação é de uma corrida lenta e longa, em que o vírus avança, consome leitos hospitalares, ceifa vidas e as vacinas demoram a chegar para todos. Apesar da boa vontade do ministro Marcelo Queiroga, o país faz a imunização de maneira ainda descoordenada, um contrassenso para quem tem uma enorme tradição - reconhecida mundialmente - em campanhas de imunização bem-sucedidas. Não falta capacidade para vacinar. Faltam vacinas.
A única maneira de vencer o coronavírus e fazer a economia respirar são as vacinas e o alerta não é de agora. Cerca de 40% da força de trabalho sobrevive da informalidade sem quase nenhuma proteção social e com um número similar de pequenos negócios acuados pelo endividamento. Portanto, não há outra saída. O dilema brasileiro remete a um episódio ancestral da nossa história. Há quase dois séculos, um botânico francês, August de Saint'Hilaire, veio ao Brasil estudar a flora e cunhou a seguinte frase: "ou o Brasil acaba com as saúvas ou as saúvas acabam com o Brasil", assustado com os danos que os insetos causavam nas plantações. Agora é assim: ou o Brasil vacina e acaba com a pandemia, ou a pandemia acaba com o Brasil.
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