Em sete anos como motociclista do Samu, piloto da chamada motolância, o técnico de enfermagem contou com detalhes o que aconteceu no momento do resgate de Davi. Jaelinton revelou que foi o primeiro socorrista a chegar no terminal marítimo, antes mesmo de saber que havia um naufrágio. Uma incrível coincidência. “Eu, na verdade, tava vindo para cá para atender uma outra ocorrência, de uma pessoa vítima de desmaio”.
A vítima do desmaio iria pegar a lancha do acidente e acabou chegando atrasada. Entrou na próxima. “Ela pegou outra lancha e, quando passou, presenciou o acidente. Aí chegou aqui abalada, nervosa. Foi quando a gente soube do ocorrido e informamos a central. A determinação deles foi de que ficássemos aqui”, relatou.
Minutos depois, quando os socorristas montavam as arenas de atendimento, chegou uma embarcação com cerca de 30 vítimas do acidente. Todas sobreviventes. Exceto uma. “Avaliamos e as pessoas estavam tranquilas, respirando confortavelmente. Então o médico perguntou se tinha algum óbito. Foi quando, no canto, avistamos uma criança”.
Quando o doutor Márcio Bittencourt tocou em Davi, ele já estava, como eles costumam dizer, “cianótica”, com coloração arroxeada. As extremidades estavam frias e não havia sinais vitais. Os procedimentos foram iniciados na própria embarcação. “Não tinha espaço para os procedimentos e o barco balançava”. A única solução foi interromper as compressões no peito.
Foi quando Jaelinton tomou Davi nos braços e levou o menino para a unidade móvel. Equipada, inclusive, com desfibrilador. “A conduzimos para a unidade e foram feitas todas as manobras possíveis”. Davi foi, inclusive, entubado. Por uma hora e meia os médicos tentaram reanima-lo. “A gente sempre tem esperança, né? Eu tinha esperança que aquela criança pudesse voltar. Por toda a situação, por ser criança ainda. Infelizmente...”, disse Jaelinton, tão acustumado com tragédias, pela primeira vez com a voz embargada.
Homem de fé, praticante do candomblé, Jaeliton diz que não se sente frustrado, mas triste. "Fizemos a nossa parte, né? Deus fez a dele. Não sinto frustração, mas a gente fica triste, né? Com todo esse investimento que a gente fez não ter conseguido”. No dia seguinte ao que se tornou herói sem ter salvado ninguém, Jaelinton preferiu o conforto à família de Davi. “O que eu diria para a família? Eu diria que, no rio da vida, as águas do tempo aliviam tudo”.
Dedicação
Durante 10 anos o atual coordenador de Urgência e Emergência da prefeitura de Salvador, Ivan Paiva, trabalhou com Jaelinton no Samu. Ele contou que as ambulâncias da capital fazem, em média, 300 atendimentos por dia e que as lembranças que tem do colega é de um profissional empenhado no serviço.
"Ele sempre foi muito dedicado e competente, buscando sempre aprender. Um bom profissional. Tudo que aconteceu ontem demonstra a importância do trabalho em equipe. Os motociclistas, técnicos em enfermagem, é que chegam primeiro ao local e dão os primeiros-socorros, até a equipe médica conseguir chegar. O trabalho é de fundamental importância", contou.
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