"O homem é estúpido, é um teimoso que não vê", disse, atribuindo a frase a uma passagem do Antigo Testamento. Em seguida, emendou: "o homem é o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra".
O pontífice disse que os recentes furacões Harvey e Irma mostraram que os efeitos das mudanças climáticas podem ser vistos "com seus próprios olhos".
"Quem nega as mudanças climáticas tem de perguntar aos cientistas. Eles são claros e precisos", assinalou o líder da Igreja Católica em conversa com a imprensa na sua viagem de volta a Roma, após uma visita à Colômbia.
Ele disse ainda que a história julgará os líderes mundiais que nada fazem para minimizar os danos causados ao meio ambiente.
Apesar de o papa associar o aquecimento global às tempestades que provocaram prejuízo milionário a ilhas do Caribe e aos EUA nas últimas semanas, nem todo mundo concorda com essa visão.
O chefe da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, em inglês), Scott Pruitt, disse ser um momento inapropriado para discutir a relação entre aquecimento global e a passagem dos furacões pelo Caribe e EUA.
Pruitt, que anteriormente declarou não concordar que emissões de dióxido de carbono fossem uma das principais causas do aquecimento global, afirmou à rede de televisão CNN que a especulação sobre "as causas e efeitos dos furacões...são descabidas".
O chefe da agência americana disse que as discussões, nesse momento, deveriam focar nos esforços de limpeza.
O prefeito de Miami, Tomás Regalado, que viu a própria cidade ficar parcialmente submersa depois da passagem do furacão Irma, discorda. Ele declarou ao jornal Miami Herald que "agora é a hora de falar sobre aquecimento global". "É a hora do presidente (Trump), da EPA e de quem mais toma decisões de falar sobre mudança climática".
Matt McGrath, analista da BBC para assuntos de meio ambiente, afirma que furacões são fenômenos complexos, difíceis de prever, mesmo com ou sem o aquecimento global como pano de fundo das discussões.
Ligar a incidência e a gravidade do impacto dos furacões a mudanças climáticas, diz McGrath, também é difícil de provar, simplesmente porque são eventos raros e não existe uma quantidade significativa de dados históricos para serem analisados e comparados.
Mas o especialista pondera que há algumas certezas. A equação de Clausius-Clapeyron nos permite afirmar que atmosfera mantém mais umidade, diz ele. Para cada grau Celsius extra no clima, a atmosfera pode conter 7% mais de água. Isso tende a tornar as chuvas ainda mais fortes, quando ocorrem.
McGrath diz que outra certeza é que a temperatura dos mares está mais alta - e cita o cientistas Brian Hoskins, do Instituto de Mundanças Climáticas Grantham, que disse que "as águas do Golfo do México estão 1,5 graus mais quentes que a temperatura registrada entre 1980 e 2010".
O debate sobre mudanças climáticas saiu da pauta oficial do governo dos EUA depois que Donald Trump assumiu a Casa Branca.
O presidente dos EUA reverteu algumas leis de proteção ambiental - muita delas implementadas por Barack Obama. Trump também anunciou a intenção de retirar os EUA do Acordo de Paris, assinado em 2015 por 195 países, como resposta global à ameaça da mudança do clima.
No entanto, não se sabe ao certo o que Trump pensa hoje sobre o aquecimento global. Em 2012, ele escreveu no Twitter que "o conceito de aquecimento global foi criado pela China" para prejudicar a competitividade da indústria norte-americana.
O papa Francisco, por sua vez, não tem dúvidas sobre essa ameaça. Ele disse temer que o impacto será maior sobre os mais pobres, e critica abertamente quem não se disponha a agir contra o problema.
Suas declarações recentes foram vistas como críticas veladas a líderes como Trump.
"Eu não acho que seja algo para brincar. Cada pessoa tem sua responsabilidade, os políticos têm as suas."
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