A embaixadora da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP 26), Fiona Clouder, avaliou hoje (10) que o Brasil tem grande potencial de influenciar países em ações de mitigação de mudanças climáticas. Ao participar da sessão temática do Senado Federal nesta sexta-feira que debateu o último relatório do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU), ela destacou a influência brasileira no mundo.
“O Brasil tem tanto potencial! Ele tem a preciosidade de ter tanta diversidade e tantos ecossistemas. Ele tem o potencial de ter uma enorme influência, de exercer uma enorme influência sobre o mundo”, avaliou. Para Fiona, é preciso recuar e dar um passo adiante, dar um passo à frente.
Pela primeira vez, o IPCC quantificou o aumento da frequência e da intensidade dos eventos extremos ligados às mudanças climáticas. Nas últimas décadas, o aumento de eventos extremos, como tempestades, enchentes, furacões, ciclones, secas prolongadas e ondas de calor já eram previstas, mas com modelos computacionais mais modernos, passou a ser possível atribuir o grau de influência das alterações do clima nesses eventos e até calcular quantas vezes mais frequentes e mais intensos eles se tornam em função do aquecimento global.
Segundo a embaixadora da ONU, a agenda de mitigação é muito importante e todos os países têm um papel com as partes e também para adotar essas estratégias de longo prazo, um conjunto de atividades para se adaptar. “Para levar adiante todas essas pautas, é preciso ter recursos. Esse é um tema central também na COP 26. É importante termos recursos para enfrentar esses compromissos, para financiar em nível internacional esses projetos. Uma meta de US$ 100 bilhões foi acordada e essa atitude, essa movimentação é urgente. Ela precisa ser implementada para se alcançarem as metas financeiras”, disse.
“Para que o Artigo 6º do Acordo de Paris possa ser implementado, nós estamos ansiosos para trabalhar com o Brasil em todas essas questões, para alcançar, para desenvolver essas pautas e implementar os mecanismos para promover essas ações para combater a mudança climática”, destacou Fiona.
Ainda segundo a embaixadora da COP 26, no contexto da pandemia de covid-19, existem dificuldades mas também existem várias oportunidades de transição para novos mercados e uma nova geração de consumidores. Fiona listou oportunidade para novos investidores, para investimento em infraestrutura, investimento em transição para uma nova fonte de energia. Para ela, há oportunidade para alcançar o máximo, extrair o máximo do mundo, para preservar ao máximo o mundo natural, para fazer o máximo dessas soluções naturais, e fazer tudo isso de forma sustentável e também para auxiliar o uso do solo, a agricultura e outras atividades.
O Acordo de Paris reúne mais de 190 países que se comprometem individualmente a manter esforços progressivos de redução de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera por meio de metas conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). O objetivo é limitar o aquecimento global a menos de 2ºC e com esforços para se manter abaixo de 1,5º C em relação aos níveis pré-industriais. O acordo requer que os países progressivamente reduzam suas emissões até que se atinja um balanço entre as emissões e as reduções ou remoções e assim se alcance a tal neutralização. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro se comprometeu a alcançar a neutralidade de carbono até 2050, mesmo prazo dado pelos Estados Unidos.
A ativista sueca Greta Thunberg, de 18 anos, também participou do debate. Em uma fala de cerca de 5 minutos, a ativista disse que não está em posição de dizer como o Brasil deve agir sobre as mudanças climáticas e admitiu a responsabilidade dos países europeus na crise ambiental que o mundo enfrenta. Apesar disso, a jovem não poupou o Brasil de críticas e disse que "o que os líderes do Brasil estão fazendo hoje com os povos indígenas e com a natureza é extremamente vergonhoso".
"Claro que o Brasil não começou essa crise, mas acrescentou muito combustível a esse incêndio. O que os líderes do mundo falharam não é desculpa para o Brasil não assumir sua responsabilidade", disse.
Para Greta Thunberg, a Amazônia está "no limite" e já "emite mais carbono do que consome por conta do desmatamento e das queimadas". "Isso está sendo diretamente alimentado pelo seu governo e o mundo não pode arcar com o custo de perder a Amazônia", acrescentou.
Em meio ao julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas, a ativista também destacou a importância da defesa da população indígena pelo Brasil. “Os grupos indígenas representam menos de 5% da população, mas representam 8% da diversidade", disse. “Os direitos dos povos indígenas e os direitos climáticos caminham juntos, e a conservação não pode ficar só por conta do governo, das empresas, mas também dessas pessoas que tomaram conta do planeta por milênios”.
Em audiência publica realizada na Câmara dos Deputados no dia 20 de agosto, o secretário adjunto de Clima e Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente, Marcelo Donnini Freire, disse que um dos principais objetivos da participação do governo brasileiro na COP26 será o de aprovar a regulamentação do Artigo 6º do Acordo de Paris.
"Entendemos que é de extrema importância que ele [o Artigo 6º] seja finalizado e compactuado”, disse Freire. “Temos entendimento que o mercado mundial organizado demonstrará quais são as economias limpas e quais são as grandes economias sujas, por uma questão de lógica”, acrescentou, ao destacar que o Brasil tem “grandes oportunidades” de ser exportador desse tipo de crédito que, nas palavras dele, "é muito importante para ganhos ambientais nacionais e mundiais, bem como para ganhos geopolíticos e econômicos".
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento também aproveitará o evento para mostrar o lado “descarbonizante” da agropecuária brasileira, de forma a melhorar sua imagem no exterior. Para tanto, apresentará os feitos do setor em prol do meio ambiente, segundo informou na mesma audiência o secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação da pasta, Fernando Camargo.
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